Mais de 52 milhões de toneladas de plásticos são emitidas no meio ambiente, grande parte devido à má gestão
Um inventário das emissões de poluição plástica revela que os países menos desenvolvidos emitem grande parte destes resíduos, apesar de não serem os maiores produtores ou consumidores.
O problema da poluição plástica não parece ter solução a curto prazo e cada novo estudo acrescenta mais motivos de preocupação.
Agora, uma pesquisa da Universidade de Leeds, no Reino Unido, alerta que, em 2020, mais de 52 milhões de toneladas de plástico entraram no meio ambiente, principalmente provenientes de resíduos não coletados e queimadas a céu aberto.
Este valor equivale a encher todo o Central Park, nos EUA, até 380 metros de altura, com garrafas, tampas e milhões de fragmentos de plástico descartável de grande consumo.
A pesquisa indica que mais de 2/3 desta poluição provém de resíduos que não são recolhidos. Cerca de 1,2 bilhões de pessoas não dispõem de serviços adequados de gestão de resíduos.
A análise revelou outros dados interessantes: a Índia é o maior emissor de poluição plástica, com 10,2 milhões de toneladas por ano. Juntos, Índia, Nigéria, Indonésia, China, Paquistão, Bangladesh, Rússia e Brasil emitem mais de metade da poluição plástica do mundo, relatam os autores.
Os Estados Unidos ocupam a 90ª posição, com mais de 52,5 mil toneladas; e o Reino Unido, em 135º lugar, com quase 5,1 mil toneladas.
Por outro lado, as cidades que mais produzem poluição plástica são Lagos (Nigéria), Nova Deli (Índia), Luanda (Angola), Karachi (Paquistão) e Cairo (Egito).
Mais de dois terços de todas as emissões de plástico ocorrem em países do Hemisfério Sul. O Sudeste Asiático e a África Subsaariana são os maiores geradores destes resíduos.
Os autores sugerem que os números não estão associados a uma maior produção ou consumo, mas a uma pior gestão por parte dos governos para recolher ou eliminar resíduos. Por outras palavras, embora os países de baixa e média renda gerem menos resíduos plásticos, uma percentagem significativa não é reciclada ou reutilizada.
“Os resíduos não recolhidos são a maior fonte de poluição plástica, com pelo menos 1,2 bilhões de pessoas vivendo sem serviços de coleta de resíduos e forçadas a ‘autogerir’ os seus resíduos, muitas vezes despejando-os em terra, em rios ou queimando-os em fogueiras”, explicou. Dr. Josh Cottom, primeiro autor do estudo.
O trabalho foi publicado na revista Nature após a recente ratificação de uma resolução da ONU que visa criar um tratado internacional juridicamente vinculativo para combater a poluição plástica. Os autores enfatizam a importância de ter um inventário global de emissões de plástico, que sirva de base para este tratado.
Países do Norte, países do Sul: problemas globais
Os pesquisadores analisaram a movimentação e emissão de plástico no meio ambiente, considerando as emissões como “material que passa de sistemas gerenciados ou mal gerenciados (nos quais os resíduos estão sujeitos a uma forma de controle, por mais básica que seja) para o sistema não gerenciado (o ambiente; estado não contido) sem controle”.
Utilizando aprendizagem automática e análise probabilística de fluxo de materiais, identificaram “pontos críticos” de emissões em 50.702 cidades e vilas em todo o mundo.
“A grande bomba-relógio dos microplásticos são aqueles lançados principalmente no Hemisfério Sul”, disse Costas Velis, professor de engenharia ambiental na Universidade de Leeds. No entanto, ele esclareceu que “não devemos culpar, de forma alguma, o Hemisfério Sul. E não devemos nos elogiar de forma alguma pelo que fazemos no Hemisfério Norte”.
Outros setores e associações afirmaram que a pesquisa tem foco limitado, uma vez que se concentra na instância do descarte. Isto deixa de lado toda a cadeia de abastecimento, especialmente a indústria transformadora - grande produtora de gases de efeito estufa - e o comércio, uma vez que as exportações de plástico dos países mais desenvolvidos para os mais pobres continuam a se multiplicar.
A ONU alerta que o nosso planeta está 'afogado' em plástico. “Se as tendências históricas de crescimento continuarem, a produção global de plástico primário deverá atingir 1,1 bilhões de toneladas até 2050”, afirma a agência.
O trabalho visa ajudar a informar as negociações do tratado e desenvolver planos de ação nacionais e subnacionais de gestão de resíduos e inventários de fontes de emissões.
“Já temos um problema enorme de dispersão. Eles estão nos lugares mais remotos, nos picos do Everest, na Fossa das Marianas, no oceano, no que respiramos, no que comemos e no que bebemos”, afirmou Velis. "É um problema de todos e que irá assombrar as gerações futuras", disse.
Referência da notícia:
Cottom, J. W.; Cook, E.; Velis, C. A. A local-to-global emissions inventory of macroplastic pollution. Nature, v. 633, 2024.