Marte era um ambiente extremamente frio e congelante no passado, revela novo estudo

Um novo estudo aponta evidências de que o planeta vermelho tinha um clima extremamente gelado em um passado remoto, o que dificultaria a existência de vida.

Marte
Ilustração do planeta Marte. Crédito: NASA/JPL-Caltech.

Marte é um planeta estudado há tempos para descobrir se há (ou houve) condições propícias para a existência de vida, além de planos ousados de um dia colonizar o local e torná-lo habitável a seres humanos.

Acredita-se que há bilhões de anos Marte era um local quente, úmido e perfeito para abrigar vida microbiana em certas regiões. E vários estudos trazem evidências de que a água líquida existiu em algum momento sobre a superfície marciana, apesar de nenhuma missão até hoje ter observado diretamente água em estado líquido ou encontrado indícios de vida na superfície.

Na ciência, até agora acredita-se que Marte tinha um passado quente e úmido. Mas agora, um novo estudo publicado na revista Communications Earth and Environment traz luz sobre o clima passado do planeta, sugerindo que ele era frio e congelante, e não o que se pensava anteriormente, colocando em prova então a teoria anterior.

Marte provavelmente era gelado e não quente

Para o estudo, os pesquisadores analisaram solos na Terra com materiais comparáveis encontrados na Cratera Gale em Marte. A Cratera Gale é uma cratera de impacto que foi investigada pelo Rover Curiosity da NASA, inicialmente em 2011, a fim de buscar sinais de vida, e que apresenta um material amorfo (rico em ferro e sílica mas pobre em alumínio), componente do solo sem estrutura atômica definida.

Segundo os pesquisadores, os solos e rochas dessa região fornecem um registro do clima de Marte entre 3 e 4 bilhões de anos atrás.

Os pesquisadores compararam as amostras da cratera com amostras do solo de três locais na Terra com materiais amorfos semelhantes: em Newfoundland (uma província gelada no leste do Canadá), nas Montanhas Klamath no norte da Califórnia, e no oeste de Nevada. Em cada local, eles examinaram os solos usando a análise de difração de raios-X e microscopia eletrônica de transmissão, o que permitiu ver os materiais do solo em um nível mais detalhado.

As análises identificaram que o material da Cratera é quimicamente semelhante aos solos frios e úmidos encontrados em Newfoundland. Por outro lado, os solos de climas mais quentes da Califórnia e de Nevada não apresentaram a mesma semelhança. O estudo sugere então que condições muito frias, próximas do congelamento, são um fator cinético limitante particular que permite que esses materiais amorfos se formem e sejam preservados.

Newfoundland (Terra Nova e Labrador, em português) é a província mais ao leste do Canadá, com clima subártico (ou subpolar) caracterizado por invernos longos, geralmente muito frios, e verões curtos, de frescos a amenos.

"Isso mostra que é necessário haver água ali para formar esses materiais. Mas é preciso estar frio, com temperaturas médias anuais próximas ao congelamento para preservar o material amorfo nos solos", comentou Anthony Feldman, da Universidade de Nevada, em Las Vegas , e autor principal do estudo.

Contudo, Feldman explica que nunca será encontrado um análogo direto para a superfície de Marte, pois as condições são muito diferentes entre o planeta e a Terra. "Mas podemos olhar para tendências sob condições terrestres e usá-las para tentar extrapolar para questões marcianas", disse ele.

Cratera Gale, em Marte
Imagem oblíqua da Cratera Gale, em Marte, com exagero vertical para enfatizar a topografia da área. A Cratera tem 154 km de diâmetro. Crédito: NASA/JPL-Caltech/ESA/DLR/FU Berlin/MSSS.

Portanto, as condições de Marte provavelmente eram extremamente frias há bilhões de anos, o que tornaria difícil a existência de vida. “Este estudo melhora nossa compreensão do clima de Marte. Os resultados sugerem que a abundância desse material na Cratera Gale é consistente com condições subárticas, semelhantes ao que veríamos, por exemplo, na Islândia”, comentou Feldman.

Essa descoberta sugere que o planeta vermelho pode ter sido um local com clima subártico no passado, com temperaturas próximas do congelamento. E essa nova visão pode ter implicações significativas para a busca de vida, e abre caminho para novas pesquisas sobre a história climática do planeta e seu potencial para sustentar a vida.

Referência da notícia:

Feldman, A. D. et al. Fe-rich X-ray amorphous material records past climate and persistence of water on Mars. Communications Earth & Environment, v. 5, n. 364, 2024.