Mega evento de El Niño impulsionou a maior extinção em massa do mundo, descobrem cientistas
Uma nova pesquisa revela como um mega evento de El Niño instigou a maior extinção em massa de todos os tempos, no fim do período Permiano. Veja mais detalhes aqui.
O Permiano é o período geológico que se estendeu aproximadamente de 280 a 245 milhões de anos atrás, o último período da era paleozoica, e que sucedeu o Período Carbonífero. Foi marcado pela perda das condições paleoclimáticas extremamente úmidas do Carbonífero, com o início de um processo de aridização em todo o planeta.
O Permiano teve o maior (e pior) evento de extinção em massa da história da Terra. Mais de 95% das espécies marinhas e 70% das terrestres foram eliminadas, marcando o fim do período.
E agora, uma pesquisa recente divulgada na revista Science, revelou que um mega El Niño instigou a extinção do Permiano, e mostra como isso aconteceu. Veja os detalhes abaixo.
Um forte El Niño impulsionou a extinção do Permiano
O novo estudo, realizado pela Universidade de Bristol e pela Universidade de Geociências da China (em Wuhan), esclarece o motivo pelo qual os efeitos do rápido aquecimento do Permiano foram tão devastadores para os seres vivos, levando à sua extinção.
Os cientistas até então tem associado essa extinção com grandes erupções vulcânicas onde hoje está localizada a Sibéria. As emissões de dióxido de carbono (CO2) resultantes das erupções aceleraram o aquecimento climático, resultando em estagnação generalizada e no colapso dos ecossistemas marinhos e terrestres.
Porém, Alexander Farnsworth, coautor do estudo, explicou que "o aquecimento climático sozinho não pode levar a extinções tão devastadoras porque, como estamos vendo hoje, quando os trópicos ficam muito quentes, as espécies migram para latitudes mais frias e altas”.
Os pesquisadores demonstraram o aquecimento no final do Permiano através do estudo de isótopos de oxigênio no material dentário fossilizado de pequenos organismos nadadores extintos chamados conodontes. Assim, eles observaram um colapso notável de gradientes de temperatura nas latitudes baixas e médias.
"Essencialmente, ficou muito quente em todos os lugares. As mudanças responsáveis pelos padrões climáticos identificados foram profundas porque houve eventos de El Niño muito mais intensos e prolongados do que os testemunhados hoje. As espécies simplesmente não estavam preparadas para se adaptar ou evoluir rápido o suficiente", disse Farnsworth.
E como a extinção ocorreu?
Através da modelagem climática, os cientistas notaram que durante a crise do Permiano-Triássico, houve um mega El Niño que persistiu por muito tempo, mais do que costuma durar atualmente, resultando em uma década de seca generalizada, seguida por anos de inundações.
No final do Permiano, a concentração atmosférica do CO2 dobrou de cerca de 410 partes por milhão (ppm) para cerca de 860 ppm, a circulação de revolvimento meridional (AMOC) entrou em colapso, a célula de Hadley se contraiu e os eventos de El Niño se intensificaram.
Então, o mega El Niño criou um feedback positivo no clima que levou a condições incrivelmente quentes nos trópicos, que se espalharam para as demais regiões da Terra, levando a perdas catastróficas de vidas terrestres e marinhas.
"Enquanto os oceanos estavam inicialmente protegidos dos aumentos de temperatura, o mega El Niño fez com que as temperaturas em terra excedessem as tolerâncias térmicas da maioria das espécies em taxas tão rápidas que elas não conseguiram se adaptar a tempo. Somente espécies que conseguiam migrar rapidamente conseguiam sobreviver, e não havia muitas plantas ou animais que pudessem fazer isso", explicou Yadong Sun, autor principal do estudo.
Referência da notícia:
Sun, Y. et al. Mega El Niño instigated the end-Permian mass extinction. Science, v. 385, n. 6714, 2024.