Mudança climática: alimentos menos seguros no futuro?
O sistema alimentar mundial pode se tornar mais crítico no cenário de mudanças climáticas. Um estudo recém-publicado pela FAO ( Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) alertou para o risco do aumento da contaminação microbiológica e química dos alimentos no futuro.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), a mudança climática já está colocando em risco a segurança alimentar e são necessárias ações que preparem o sistema alimentar para as crises futuras. O problema é ainda mais grave ao considerar os países subdesenvolvidos onde a produção e a distribuição de alimentos enfrentam grandes desafios.
Um relatório publicado pela FAO recentemente encontrou que as mudanças climáticas podem aumentar a contaminação da população por meio dos alimentos. Isso é esperado porque as mudanças climáticas alteram os padrões de precipitação e temperatura, o que afeta diretamente o desenvolvimento de culturas e o surgimento de pragas. Deste modo, a demanda por produtos químicos e pesticidas aumentam. “A ameaça das mudanças climáticas para a segurança alimentar global é um desafio muito sério”, disse Keya Mukherjee, especialista da FAO.
Mukherjee ainda acrescenta que o risco de contaminação está em todo o sistema alimentar, ou seja, a contaminação independe se o alimento é proveniente da terra ou do mar, ou se é de origem animal ou vegetal. “Por exemplo, fungos micotoxigênicos podem afetar culturas básicas como grãos de cereais, patógenos de origem alimentar podem ser encontrados na carne, toxinas marinhas e metilmercúrio podem estar presentes em frutos do mar. É difícil gerar uma lista de commodities que estão em maior risco, o que por sua vez ressalta a importância de manter todos os nossos alimentos protegidos dos impactos do clima”.
Com relação aos contaminantes microbiológicos, os autores do artigo verificaram que o aumento da temperatura - associado as mudanças climáticas - pode alterar as chances de sobrevivência de patógenos como a Salmonella e Vibrio. Outro tipo de contaminante verificado no estudo são os químicos. “Micotoxinas terrestres toxinas marinhas da proliferação de algas nocivas estão entre os principais contaminantes químicos, para os quais há evidências bem documentadas que mostram os impactos das mudanças climáticas, por exemplo, padrões de ocorrência aumentados”, disse Mukherjee e seu colega especialista em segurança alimentar Vittorio Fattori.
Eles ainda comentam a expansão da área geográfica em que esses contaminantes estão sendo observados. “As mudanças climáticas estão expandindo a distribuição de fungos toxigênicos e espécies de algas produtoras de toxinas para outras áreas além daqueles que são tradicionalmente observados. Essas áreas geralmente não estão preparadas para os desafios econômicos, de saúde pública e de gestão da segurança alimentar que estão associados a esses contaminantes”.
“Também há evidências de maior exposição a outros contaminantes químicos, como metais pesados. Por exemplo, a conversão de mercúrio em metilmercúrio e sua biocumulação nos sistemas aquáticos parecem depender de fatores impulsionados pelas mudanças climáticas, como o aquecimento do oceano e a acidificação. Um aumento da absorção de arsênio em culturas básicas como o arroz foi documentada em condições de aumento da temperatura do solo e do ar”.
Mesmo não havendo evidências conclusivas que relacione diretamente as mudanças climáticas ao uso de pesticidas, alguns estudos mostram como às condições do clima possuem um papel importante na migração de pragas para áreas longes de seus habitats geográficos naturais. Com um aumento crescente da população mundial – devendo chegar a 9,7 bilhões em 2050 – o desperdício de alimentos deve ser reduzido. Além disso, é fundamental que hajam políticas públicas a fim de minimizar os impactos das mudanças climáticas no sistema alimentar.