Mudança na circulação do Atlântico podem levar a um estado de La Niña
Um novo estudo da Nature revela que se nada for feito para frear as mudanças climáticas, a Circulação Meridional do Oceano Atlântico poderá colapsar totalmente. Se isso ocorrer, o planeta será induzido a um estado de clima semelhante ao gerado pela La Niña!
As mudanças climáticas estão desacelerando uma importante circulação oceânica que atua no Oceano Atlântico, a chamada Circulação Meridional do Oceano Atlântico. Essa circulação é responsável por distribuir o calor entre a região tropical e as latitudes polares, sendo extremamente importante para o equilíbrio do clima global!
Um novo estudo publicado na Nature Climate Change, feito por cientistas climáticos da Austrália, incluindo a brasileira Andrea Taschetto, explorou quais seriam os impactos e consequências no clima da Terra se este sistema de circulação oceânica do Atlântico colapsasse totalmente! Os pesquisadores descobriram que o colapso desse sistema mudaria o clima da Terra para um estado semelhante ao gerado pela La Niña - fase negativa do fenômeno El Niño Oscilação Sul.
Isso significa que se a circulação meridional colapsar, o leste da Austrália sofreria com mais chuvas e inundações, enquanto que o sudoeste dos Estados Unidos sofreria episódios de secas e temporadas de incêndios florestais muito piores, de acordo com o estudo. Episódios semelhantes ou até piores aos que foram e estão sendo registrados recentemente nessas regiões devido a La Niña que atua desde 2020.
Os pesquisadores usaram um modelo global para analisar o cenário climático consequente de um colapso dessa circulação oceânica, aplicando uma simulação de degelo massivo no Atlântico Norte. A primeira coisa que os pesquisadores detectaram foi que, sem a circulação do Atlântico, uma enorme quantidade de calor se acumularia ao sul do Equador.
Esse calor em excesso sobre o Atlântico tropical alteraria a circulação atmosférica zonal, induzindo movimentos subsidentes sobre o Pacífico Tropical Leste. Esses movimentos subsidentes, por sua vez, fortaleceriam os ventos alísios, que passariam a empurrar as águas quentes para oeste, induzindo as anomalias negativas de temperatura da superfície do mar sobre o Pacífico Tropical Central - Leste, configurando um estado de La Niña.
O que é a Circulação Meridional do Atlântico?
A Circulação Meridional do Atlântico, também chamada de Circulação de Revolvimento Meridional do Atlântico - em inglês Atlantic Overturning Meridional Circulation - compreende um robusto conjunto de correntes oceânicas superficiais e profundas, responsáveis pelo transporte superficial de águas mais quentes e salgadas para norte e um fluxo para sul de águas mais frias em profundidade. Essas “esteiras” de transporte na superfície e nas profundezas se conectam nas regiões de “capotagem”, onde ocorre o afundamento ou afloramento das corrente, fechando essa grande célula de circulação oceânica.
Essa circulação transporta as águas quentes do Atlântico Equatorial e Sul para o Atlântico Norte. Esse calor é capturado pela atmosfera nas latitudes mais altas e promove um clima mais ameno em partes da Europa. Enquanto que o outro ramo da célula de circulação transporta águas mais frias para o sul, permitindo que os trópicos percam o excesso de calor. Portanto, essa circulação oceânica exerce um importante papel no equilíbrio do sistema climático.
Registros climáticos de mais de 100 mil anos revelam que esta circulação já foi “desligada” ou extremamente desacelerada durante as eras de gelo. Porém, desde o início da civilização humana, cerca de 5 mil anos atrás, a circulação meridional do Atlântico tem permanecido relativamente estável. Com exceção dos últimos últimos anos, em que foi observado indícios que essa circulação estaria se desacelerando. Mas por que?
Um dos principais fatores seria o derretimento das calotas polares na Groenlândia e Antártica, que despejam grandes quantidades de água doce nos oceanos, o que torna a água menos densa e reduz o afundamento das águas densas nas regiões de ‘capotagem’ em altas latitudes.