Mudanças climáticas podem favorecer rios atmosféricos mais intensos

Os rios atmosféricos, do tipo que causou o caos em partes do Canadá neste mês, podem se tornar mais intensos e causar mais danos no futuro, devido aos efeitos da mudança climática, conforme dizem algumas pesquisas.

Atmospheric River
Rio atmosférico atingindo a costa da Colúmbia Britânica.

Os Rios Atmosféricos (ARs, em inglês) - longos fluxos de vapor de água concentrado - permaneceram relativamente não tão afetados pelas mudanças climáticas. Mas é provável que isso mude no futuro, com os ARs projetados para se tornarem mais intensos e destrutivos, devido ao aquecimento do clima.

Em alguns casos, os níveis médios de precipitação durante eventos de ARs podem aumentar em até 20 mm por mês, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista Nature.

Isso pode levar a uma maior ocorrência de eventos graves semelhantes ao visto na província de British Columbia, no Canadá, no início deste mês. As chuvas extremas relacionadas com o AR provocaram deslizamentos de terra e inundações na província, o que resultou no corte das ligações de transporte e na declaração de estado de emergência.

Rios no céu

Os ARs são comumente chamados de 'rios no céu', devido a eles formarem colunas longas e sinuosas na atmosfera, que às vezes podem se estender por centenas de quilômetros.

De acordo com a NASA, geralmente há cerca de 11 ARs presentes em todo o globo ao mesmo tempo. Eles carregam o vapor d'água dos trópicos para as latitudes mais temperadas e, mais comumente, atingem as costas ocidentais da América do Norte, América do Sul e da Europa.

Estima-se que alguns ARs transportam mais água do que o dobro da quantidade despejada pelo Rio Amazonas, o que lhes dá o potencial de gerar níveis incrivelmente altos de precipitação. Mas, até agora, os ARs permaneceram estáveis em sua intensidade à medida que as temperaturas globais aumentaram, apesar de uma atmosfera mais quente ser capaz de reter mais umidade.

Os impactos de um clima mais quente

Esta estabilidade não deve continuar, de acordo com Seung Hun Baek, co-autor do estudo e associado de pós-doutorado em Ciências da Terra e Planetárias da Universidade de Yale.

“Embora o aumento da precipitação de 20 milímetros por mês seja significativo, talvez o maior impacto venha do aumento dos extremos,” disse Baek.

“Os rios atmosféricos já representam riscos substanciais de tempestades e inundações, mas espera-se que esses riscos aumentem dramaticamente. Espera-se que a Europa, por exemplo, experimente chuvas extremas causadas por ARs com 100% de frequência a mais do que no século passado. Isso significa tempestades fortes muito mais frequentes e com o potencial de afetar vidas e propriedades.”

Flooding, Canada
Rios atmosféricos intensos podem causar inundações extensas em alguns casos.

O estudo apoia pesquisas anteriores realizadas em 2018 pela NASA, que descobriram que os ARs serão 25% maiores e mais longos até o final do século. Também foi indicado um aumento na frequência dos eventos de ARs intensos, que podem dobrar neste mesmo intervalo de tempo.

Ao menos 4 pessoas morreram nas enchentes na Colúmbia Britânica na semana passada, junto com milhares de animais. O AR despejou as chuvas esperadas em um mês em apenas dois dias, e foi estimado como o desastre natural mais caro na história do Canadá.