As árvores gigantes na Amazônia ainda são um mistério para a ciência; entenda porquê

Com alturas superiores a prédios de 20 andares, árvores monumentais chamam atenção em meio à paisagem da floresta amazônica e intrigam cientistas

Registro de drone de árvore gigante na Amazônia
Pesquisadores buscam entender as condições que explicam a existência de árvores gigantes na Amazônia. Crédito: Fernando Sette

A Amazônia é conhecida por ser um lugar de superlativos. Nela, está a mais vasta floresta tropical do mundo; é por suas curvas e meandros que corre o maior rio do planeta em extensão e volume. Mesmo em uma terra de grandezas, a existência de árvores gigantes intriga pesquisadores.

No contexto amazônico, são consideradas gigantes as árvores que se destacam por suas dimensões, em altura e diâmetro, e ultrapassam em muito o dossel da floresta (que, na região, varia entre 35 e 45 metros). As árvores gigantes da Amazônia, em comparação, podem alcançar de 60 a quase 90 metros, alturas superiores ao tamanho de prédios de 20 andares.

A maior delas é um exemplar de angelim-vermelho (Dinizia excelsa) de 88,5 metros e 3,15 metros de diâmetro. Medida oficialmente em 2022 no oeste do estado do Pará, esta é a árvore mais alta registrada na América do Sul.

Que condições explicam o crescimento de árvores gigantes na Amazônia?

No hemisfério norte, sobretudo em florestas temperadas dos Estados Unidos, a ocorrência de árvores gigantescas é um fato sabido e estudado há muitas décadas. Espécies colossais com mais de 100 metros de altura, a exemplo da sequóia-vermelha ou sequoia-costeira (Sequoia sempervirens), são símbolos do trabalho de conservação ambiental em lugares como o Parque Nacional de Redwood, na Califórnia.

Em zonas tropicais, como a Amazônia, a descoberta de árvores de grande porte é mais recente e impressionante, porque desafia o entendimento científico de que seres vivos dessa magnitude só seriam encontrados em climas mais amenos. As temperaturas altas e a recorrência de uma estação mais seca, que marcam as matas amazônicas, a princípio não pareciam condições adequadas para o crescimento de uma vegetação tão expressiva em altura como o gigantesco angelim-vermelho e outras espécies mapeadas nos últimos anos por pesquisadores no bioma.

Análises de imagens de satélites, medições feitas por sobrevoos e com uso da tecnologia Lidar (de detecção de luz e medidas de distância) em recortes florestais, e levantamentos em solo dos meios físicos e biológicos estão ajudando pesquisadores a delimitar as áreas onde se concentram e os fatores que explicam a existência de árvores gigantes na Amazônia. Um estudo recente publicado na revista Global Change Biology indica que o escudo das Guianas e Roraima, no norte da Amazônia, é uma região com alta diversidade de árvores gigantes.

Patrimônios da biodiversidade na Amazônia

Próximo a essa região, na divisa entre os estados do Amapá e Pará, foi identificado o angelim-vermelho de 88,5 metros e outras dezenas de árvores de grande porte, com mais de 70 metros de altura. Recentemente, o Governo do Pará instituiu no território o Parque Estadual Ambiental Árvores Gigantes da Amazônia, uma área de proteção integral de cerca de 560 mil hectares dedicada à conservação desse patrimônio da sociobiodiversidade amazônica.

“São as árvores mais altas do Brasil e da América do Sul, elas representam não somente um recorde do ponto de vista de altura, mas também ambientes que tem uma riquíssima biodiversidade, parte dela ainda não documentada pela ciência. Portanto, representa um laboratório natural para pesquisa que pode dar origem a descobertas muito relevantes tanto para a ciência em si, como para a saúde pública, bioeconomia e tem um simbolismo muito grande", comenta Virgilio Viana, engenheiro florestal e superintendente-geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS).

Referência da notícia:

CNN Brasil. Angelim-vermelho de 88 metros é o guardião de árvores gigantes na Amazônia. 2024

Revista Fapesp. Pesquisadores investigam os mistérios das árvores gigantes da Amazônia. 2024

Global Change Biology. Giants of the Amazon: How does environmental variation drive the diversity patterns of large trees? 2023