Na Amazônia, torre é construída para monitorar emissão de gases de efeito estufa em floresta de várzea

A estrutura está instalada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, uma das áreas ambientais protegidas da Amazônia.

Torre de monitoramento de gases de efeito estufa é a primeira em florestas de várzea na Amazônia. Crédito: Miguel Monteiro/IDSM

Com 48 metros de altura, a Torre de Fluxo Mamirauá é uma construção pioneira em florestas de várzea na Amazônia. A estrutura ganha esse nome por sua localização estratégica: a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, no Amazonas. Equipada com avançadas tecnologias de medição, a torre vai operar o monitoramento da emissão de gases de efeito estufa nessa que é a maior área protegida em zonas úmidas no Brasil.

As florestas de várzea são ecossistemas amazônicos ricos em biodiversidade e característicos de regiões de planícies inundáveis. Nesses lugares, as estações de seca e cheia são marcadas pelas mudanças no nível de água de rios como Solimões e Japurá.

A dimensão ecológica e relevância climática desses ambientes ainda está sendo compreendida pela ciência. Nesse contexto, a construção da torre de monitoramento é um marco na investigação das florestas de várzea e a contribuição delas para a regulação do clima em nível regional e mundial.

Torre é resultado de cooperação científica e internacional

O projeto é uma realização do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, da Universidade Federal de Santa Maria e Universidade de Stanford, na Inglaterra. O financiamento é da Fundação Gordon & Betty Moore.

Na Torre de Fluxo Mamirauá, instrumentos de medição avaliam as taxas de gás metano, gás carbônico e vapor d´água liberados pela floresta no entorno. O monitoramento está em curso e será feito de forma contínua durante os períodos de seca e cheia, o que vai permitir aos pesquisadores avaliar as variações desses indicadores relacionados ao fenômeno do pulso de inundação dos rios.

Os desafios de implantar a tecnologia na floresta amazônica

Construção da torre na Amazônia foi marcada por desafios logísticos. Crédito: Miguel Monteiro/IDSM
Construção da torre na Amazônia foi marcada por desafios logísticos. Crédito: Miguel Monteiro/IDSM

O processo de construção da torre foi permeado por adversidades impostas pelas condições climáticas e do terreno na Reserva Mamirauá. A doutora em Meteorologia e pesquisadora do Instituto Mamirauá Lady Custódio conta que “a fase de construção da torre enfrentou desafios devido às particularidades do ambiente de várzea. Foi necessário acompanhar cuidadosamente o ritmo da enchente para planejar a logística. Apesar das dificuldades, o sucesso da construção e a obtenção dos primeiros dados de monitoramento foram motivo de grande satisfação, marcando o início de uma etapa promissora para a pesquisa ambiental na região”.

Torre será integrada à rede mundial de dados sobre ecossistemas

A Torre de Fluxo Mamirauá é a primeira nessa categoria em uma floresta de várzea na Amazônia. As medições de gases, sobretudo o metano (CH4), vão ajudar a compreender melhor e com mais precisão o papel dos ecossistemas tropicais na emissão de gases de efeito estufa.

De acordo com Ayan Fleischmann, pesquisador titular do Instituto Mamirauá e um dos organizadores do projeto, “existe uma discrepância muito grande entre o levantamento realizado por satélites da emissão de gases de efeito estufa em ambientes tropicais e as estimativas modeladas para essas áreas. Sabe-se muito pouco sobre a dinâmica de gases de efeito estufa em áreas de floresta de várzea, especialmente do gás metano”.

Os resultados de monitoramento da torre passarão a integrar a Rede FLUXNET-CH4, um banco internacional de torres de fluxo instaladas ao redor do mundo. Além disso, vai compor o Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia - LBA, coordenado pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

Referências da notícia

Instituto Mamirauá. Instituto Mamirauá constrói a primeira torre da Amazônia a monitorar a emissão de gases de efeito estufa em florestas de várzea. 2024