Nitratos de isopreno: descoberta na Amazônia que virou capa da Nature

Pesquisadores descobriram que nitratos de isopreno, formados na alta troposfera da Amazônia, desempenham um papel crucial na regulação do clima global e na formação de nuvens.

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Região amazônica ao amanhecer, quando a interação entre compostos biogênicos e raios atinge seu ápice na formação de novas partículas.

Em dezembro de 2024, a revista Nature trouxe em sua capa uma descoberta revolucionária sobre a atmosfera da Amazônia. Pesquisadores revelaram como compostos químicos derivados do isopreno, emitidos por árvores tropicais, estão impulsionando a formação de novas partículas na alta troposfera. Essa descoberta pode transformar nossa compreensão sobre os mecanismos que influenciam o clima global.

A formação de partículas na alta atmosfera

A formação de novas partículas (NPF, em inglês) é um processo crucial para a criação de aerossóis, que afetam as nuvens, a radiação solar e as chuvas. Este estudo, conduzido por uma equipe internacional, mostra que nitratos de isopreno são os principais responsáveis por esse fenômeno na Amazônia. Esses compostos são formados quando o isopreno — um composto orgânico volátil emitido pelas florestas tropicais — reage com óxidos de nitrogênio (NOx) liberados por raios.

Os pesquisadores observaram que as condições específicas da alta troposfera — baixa temperatura, alta radiação solar e a ausência de partículas preexistentes — promovem a formação de partículas a partir desses nitratos. Durante a manhã, cerca de duas horas após o nascer do sol, foram detectadas concentrações de mais de 50.000 partículas por centímetro cúbico.

Impactos climáticos globais

Essas partículas desempenham um papel fundamental como núcleos de condensação de nuvens (CCN). Ao crescerem e serem transportadas para altitudes mais baixas, influenciam a formação de nuvens e o padrão de chuvas. Isso pode afetar não apenas o clima local, mas também os processos globais, uma vez que essas partículas podem viajar grandes distâncias.

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Raios desempenham um papel crucial ao liberar óxidos de nitrogênio, essenciais para as reações químicas atmosféricas.

A descoberta também destaca o papel das florestas tropicais como reguladoras do clima. Além de absorverem dióxido de carbono, elas emitem compostos que influenciam diretamente a dinâmica atmosférica. Segundo os cientistas, essa interação entre a biologia da floresta, os raios e a química atmosférica é um exemplo claro de como os ecossistemas tropicais afetam o planeta de maneiras ainda pouco compreendidas.

Quem está por trás da descoberta

A pesquisa foi liderada pelo Instituto Max Planck de Química, na Alemanha, em colaboração com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Universidade de São Paulo (USP), entre outras instituições. Utilizando o avião de pesquisa HALO, equipado com instrumentos de última geração, a equipe conduziu o experimento CAFE-Brazil, realizando medições detalhadas da alta troposfera amazônica.

Os dados foram coletados entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023, durante a transição da estação seca para a úmeda. Essa é uma das regiões mais dinâmicas do mundo em termos de química atmosférica, devido à combinação de emissões biogênicas intensas e tempestades tropicais frequentes.

Por que isso importa?

Compreender como as partículas se formam e crescem na atmosfera é essencial para prever os impactos das mudanças climáticas. Esta pesquisa não apenas desvenda um mistério científico de longa data, mas também reforça a importância de proteger a floresta amazônica. Além de ser um tesouro de biodiversidade, ela é um componente vital no sistema climático global.

A descoberta, celebrada na capa da Nature, é um lembrete do poder da colaboração internacional e da ciência de ponta para decifrar os segredos do nosso planeta. Como o estudo sugere, proteger a Amazônia é mais do que uma questão ambiental — é essencial para o futuro da humanidade.

Referência da noticia

Isoprene nitrates drive new particle formation in Amazon’s upper troposphere. 4 de dezembro, 2024. Curtius, J., Heinritzi, M., Beck, L.J. et al.