O desaparecimento dos dinossauros pode ser a razão pela qual temos vinho hoje
É uma hipótese que surgiu a partir da descoberta de sementes fósseis de uva entre 19 e 60 milhões de anos nos Andes da Colômbia, Panamá e Peru. Qual é o relação com a extinção dos dinossauros?
A descoberta de diversas sementes de uva fossilizadas na América do Sul sugere uma ligação surpreendente entre dinossauros extintos e o requintado Malbec de Mendoza. Bem, na verdade, com qualquer vinho da América do Sul, mas todos nós temos o nosso preferido.
Os pesquisadores descobriram várias sementes fossilizadas entre as montanhas do Peru, Colômbia e Panamá, cuja análise determinou que tinham entre 19 e 66 milhões de anos. As mais antigas datam de poucos anos depois de o asteroide ter atingido a Terra, causando o desaparecimento dos dinossauros não-aviários, o que significou o fim de 75% das espécies vegetais e animais.
E o que isso tem a ver com as uvas? Em que evidências fósseis reforçam a teoria de que as plantas trepadeiras, como a videira, só conseguiram prosperar após a extinção dos dinossauros.
“Sabe-se que animais de grande porte, como os dinossauros, perturbam os ecossistemas”, diz a coautora do estudo Monica Carvalho, do Museu de Paleontologia da Universidade de Michigan. “Pensamos que se houvesse grandes dinossauros vagando pela floresta, provavelmente estavam derrubando árvores, o que na prática manteve as florestas mais abertas do que são hoje”, disse ela.
Depois que as grandes espécies de dinossauros foram extintas, as florestas tornaram-se mais densas. “No registro fóssil, estamos começando a ver mais plantas trepadeiras que sobem até o topo das árvores, como as uvas”, disse Carvalho.
As videiras cresceram e as sementes se espalharam
Os cientistas nunca encontraram fósseis de uva na América do Sul. A equipe encontrou suas sementes de 60 milhões de anos nos Andes colombianos. Eles confirmaram sua identidade por meio de tomografias computadorizadas que mostraram a característica estrutura interna semelhante a uma uva, afirma o estudo publicado na revista Nature Plants.
Uma das sementes é pouco mais jovem que a semente de uva mais antiga conhecida no mundo, enquanto outra é o exemplo mais antigo conhecido de uma espécie também encontrada em outras partes do mundo.
“Estas são as uvas mais antigas já encontradas nesta parte do mundo e são alguns milhões de anos mais novas do que as mais antigas já encontradas no outro lado do planeta”, disse Fabiany Herrera, do Centro de Pesquisa Integrativa Negaunee, em Chicago, e autora principal do estudo.
Após a extinção em massa, houve também uma diversificação de aves e mamíferos que certamente ajudou as uvas e outras plantas frutíferas a espalharem as suas sementes por todo o lado, mesmo a milhares de quilômetros de distância.
“Sempre pensamos nos animais, nos dinossauros, porque foram os mais afetados, mas a extinção também teve um grande impacto nas plantas. A floresta se recompôs de tal forma que mudou a composição das plantas”, disse Herrera.
Referência da notícia:
Herrera, F. et al. Cenozoic seeds of Vitaceae reveal a deep history of extinction and dispersal in the Neotropics. Nature Plants, v. 10, 2024.