O Deserto do Saara já foi uma savana verde há milhares de anos!
O Deserto do Saara já foi uma savana verde há cerca de 11 mil anos, com presenças elefantes e girafas! Pesquisas explicam o porquê.
Nunca passou pela sua cabeça que o Deserto do Saara costumava ser uma savana verde? Mas recentemente, uma equipe de pesquisadores desenvolveu um modelo climático que simulou os efeitos da circulação atmosférica sobre o Saara e os impactos da vegetação nas chuvas.
Dá para imaginar que o deserto do Saara já foi uma savana?
O planalto Tassili N’Ajjer da Argélia é o maior parque nacional da África, e entre suas vastas formações de arenito está talvez seja o maior museu de arte do mundo. Mais de 15 mil gravuras e pinturas estão expostas lá, algumas com até 11 mil anos de idade, representando um registro etnológico e climatológico único.
Tal arte rupestre é um registro importante das condições ambientais passadas que prevalecem no Saara, o maior deserto quente. As gravuras são datadas de 6 a 11 mil anos atrás, possivelmente chamada de Saara verde ou período úmido do Norte da África. E as evidências climatológicas existentes apontam que durante este período, o Saara possuía ecossistemas de savana arborizada e numerosos rios e lagos, onde hoje estão a Líbia, Níger e Chade.
Mas essa ecologização, ou seja, o “esverdeamento” do Saara não aconteceu apenas uma vez. Utilizando sedimentos marinhos, os pesquisadores identificaram que este processo ocorre aproximadamente a cada 21 mil anos nos últimos oito milhões de anos, fornecendo corredores de vegetação que influenciam o crescimento das espécies, distribuição e evolução.
Estas áreas verdes teriam exigido uma reorganização em grande escala do sistema atmosférico para trazer chuvas para esta região árida. Mas a maioria dos modelos climáticos não foi capaz de simular com precisão a circulação atmosférica sobre o Saara e os impactos da vegetação nas chuvas. Mas afinal, o que está por trás deste processo?
A relação com mudança na órbita da Terra
Isto foi causado por mudanças na precessão orbital da Terra, ou seja, uma ligeira oscilação do planeta durante a rotação, aproximando o Hemisfério Norte (HN) do Sol durante os meses de verão. A alteração causa verões mais quentes no HN, e o ar mais quente é capaz de reter mais umidade, o que intensificou a força do sistema de monções da África Ocidental e deslocou o cinturão de chuva africano para o Norte.
Devido às influências gravitacionais da Lua e de outros planetas no sistema solar, a órbita da Terra em torno do Sol não é constante, pois possui variações cíclicas em escalas de tempo de vários mil anos. Estes ciclos orbitais são denominados ciclos de Milankovitch, e influenciam a quantidade de energia que a Terra recebe do sol.
Em ciclos de 100 mil anos, a forma da órbita da Terra, chamada de excentricidade, varia entre circular e oval, e em 41 mil anos a inclinação do eixo da Terra (obliquidade) possui variação. Os ciclos de excentricidade e obliquidade são responsáveis por impulsionar as eras glaciais dos últimos 2,4 milhões de anos.
O Saara funciona como um portão que é responsável por controlar a dispersão de espécies entre o norte e a África Subsaariana, dentro e fora do continente. O portão estava aberto quando o Saara estava arborizado e fechado quando prevaleciam os desertos. Tais resultados revelam a sensibilidade do Saara à órbita da Terra ao redor do Sol, além de mostrar que as camadas de gelo em altas latitudes podem ter restringido a dispersão de espécies durante os períodos glaciais dos últimos 800 mil anos.
O refinamento dos modelos climáticos poderão, no futuro, ser capazes de identificar como o aquecimento global influenciará as chuvas e a vegetação do Saara, além das suas implicações para a sociedade.
Referência da notícia
Edward Armstrong. The Sahara Desert used to be a green savannah – new research explains why. The Conversation. Disponível em: <https://theconversation.com/the-sahara-desert-used-to-be-a-green-savannah-new-research-explains-why-216555> Acesso em 20 Dez 2023.