O formato do seu coração pode prever problemas de saúde, revela estudo na Nature
Estudo conclui que o formato do coração influencia o risco de doenças cardiovasculares. Corações mais esféricos estão ligados à fibrilação atrial, enquanto são descobertos 14 novos genes associados a problemas cardíacos.
Um estudo internacional, liderado por cientistas espanhóis e publicado na revista Nature Communications, revelou que o formato do coração pode influenciar significativamente o risco de desenvolver doenças cardiovasculares.
Os pesquisadores descobriram que corações com morfologia mais esférica estão associados a uma maior probabilidade de sofrer de fibrilação atrial, além de identificarem 14 novos genes ligados a problemas cardíacos.
Um modelo tridimensional do coração
A equipe usou exames de ressonância magnética de mais de 40 mil pessoas obtidos do banco de dados público UK Biobank para construir modelos tridimensionais detalhados do coração. “Para cada indivíduo, criamos uma representação completa do seu coração, incluindo o ventrículo esquerdo, o ventrículo direito e na diástole, quando o coração está relaxado”, explicou Patricia B. Munroe, professora de medicina molecular na Universidade Queen Mary de Londres e uma das coautoras do estudo.
Esta abordagem, segundo Julia Ramírez, pesquisadora da Universidade de Zaragoza e coautora do estudo, é única porque integra a morfologia completa do coração num modelo tridimensional, superando medidas convencionais como a espessura do miocárdio ou o volume dos ventrículos.
Descobertas genéticas
Após analisar as informações genéticas dos participantes, a equipe identificou 45 regiões do DNA relacionadas ao formato do coração, das quais 14 eram completamente desconhecidas. “Esses genes nunca foram associados a doenças cardíacas ou a qualquer característica relacionada ao coração”, explicou Munroe. Embora a sua função ainda não seja totalmente compreendida, estas descobertas abrem novas linhas de pesquisas.
“Sabíamos que a genética influenciava parâmetros simples como a espessura do ventrículo, mas não sabíamos que determinava toda a morfologia com tanto detalhe”, acrescentou Ramírez. Além disso, o estudo correlacionou esses genes e formatos de coração com a saúde dos participantes, estabelecendo uma ligação entre genética, alterações morfológicas e desenvolvimento de doenças.
Os resultados mostraram que corações menores estão relacionados a um maior risco de diabetes, confirmando estudos anteriores. Em relação à esfericidade, foi observada associação com risco aumentado de fibrilação atrial, condição que pode causar batimentos cardíacos irregulares e outras complicações graves. Embora outras correlações tenham sido identificadas, elas foram menos significativas.
Estes resultados poderão ter aplicações clínicas no futuro, especialmente na previsão de riscos cardiovasculares. “Com a informação genética, poderíamos determinar se alguém tem um coração anormal que o predispõe a certas doenças. Isso poderia ser mais barato do que realizar ressonâncias magnéticas”, disse Ramírez. No entanto, o estudo ainda está em fase preliminar.
Perspectivas clínicas
Embora o estudo forneça dados promissores, especialistas como Ana García Álvarez, chefe do Serviço de Cardiologia do Hospital Clínico de Barcelona, destacam que o estilo de vida continua sendo o fator determinante na saúde cardiovascular. “Recomendar uma vida saudável é fundamental para todos: é preciso manter-se ativo, evitar o tabaco e controlar o colesterol”, afirmou ela.
Além disso, ela ressaltou que ainda é cedo para determinar a utilidade clínica dos genes descobertos. “É possível que alguns destes 14 genes tenham relevância no futuro, mas é necessária mais pesquisa”, conclui ela.
A equipe planeja continuar estudando as ressonâncias magnéticas capturadas durante a sístole, quando o coração está se contraindo. Essa abordagem poderia fornecer mais informações genéticas e morfológicas, ampliando o conhecimento sobre a relação entre formato do coração e doenças cardiovasculares.
Referência da notícia
Genetic basis of right and left ventricular heart shape. 14 de novembro, 2024. Richard Burns, et al.
¿Pequeño? ¿Esférico? ¿Inclinado? La forma del corazón revela el riesgo de sufrir algunas enfermedades cardiovasculares. 03 de janeiro, 2025. Eugenia Angulo.