O gelo marinho está sendo crucial na aceleração do aquecimento global
Estudos recentes nas estalagmites ibéricas analisaram os processos de derretimento no planeta, e arquivos climáticos revelam alterações na salinidade do Atlântico Norte derivadas do derretimento de grandes mantos polares.
A intensidade e a taxa de degelo durante o penúltimo derretimento do gelo foram muitos maiores do que se pensava anteriormente. De acordo com estudos recentes, neste cenário de mudança climática, a instabilidade das camadas de gelo marinhas - aquelas que fluem diretamente para o oceano - foi fundamental para acelerar o aquecimento global.
Este estudo baseia-se na análise de estalagmites das grutas da Cordilheira Cantábrica na Península Ibérica. Para estudar os processos de derretimento no planeta, até agora, apenas cronologias sólidas estavam disponíveis para a última deglaciação, um período climático que durou cerca de 9.000 anos.
Pesquisas apresentam agora o primeiro registo do degelo do penúltimo degelo com uma cronologia robusta e contrastada, e revela que este derretimento se concentrou ao longo de um período de cerca de 5.000 anos - de 135.000 a 130.000 anos antes do presente - introduzindo mudanças significativas nas cronologias que foram aceitas até agora.
Além disso, arquivos climáticos que revelam alterações na salinidade do Atlântico Norte derivadas do derretimento de grandes mantos polares, e além disso, fornecem informações sobre a evolução das temperaturas atmosféricas na região no passado.
A relação entre oceano, atmosfera e criosfera
A interação desses três elementos, cronologias sólidas, derretimento de gelo e indicadores de temperatura, é essencial para compreender os processos de interação oceano-atmosfera durante as fases de aquecimento global do planeta. Estes fatores permitem delinear um novo quadro cronológico que foi transferido para registros marinhos existentes, a fim de proporcionar uma nova perspectiva sobre a velocidade dos processos em ação durante o penúltimo degelo.
No estudo em questão, foi estabelecido um ponto de ancoragem na cronologia do início ao fim do derretimento, confirmando a hipótese mais aceita de que as mudanças na insolação controladas pelos movimentos orbitais da Terra, são gatilhos dessa grande mudança climática.
Eles concluíram que a intensidade do aquecimento da última deglaciação não foi controlada pelas mudanças de insolação, mas sim por processos de interação climática entre oceano-atmosfera-criosfera ou a massa de gelo.
A fragilidade das camadas de gelo marinhas
Outro aspecto afetado pelo aumento da temperatura global, é a intensificação do derretimento de gelo, que por sua vez torna as geleiras mais finas. Os mantos de gelo presentes no mar, foram fundamentais para acelerar o processo de aquecimento da penúltima glaciação.
As correntes marinhas contribuem para o derretimento da base dessas geleiras, e à medida que essas estruturas se tornam mais fluidas e frágeis, acelera a taxa de progressão das geleiras, e o gelo é escoado diretamente no mar a uma taxa que não permite que a geleira se regenere.
Hoje em dia, grande parte das geleiras da Groenlândia e da Antártida tem uma base marinha que mostra sinais de derretimento e desestabilização. A penúltima deglaciação é a única seguiu caminho para um período interglacial que foi mais quente do que o atual, cerca de 1,5°C mais quente do que as temperaturas pré-industriais.
Essas condições duraram séculos e causaram um derretimento superior do gelo nas regiões citadas acima, elevando o nível do mar em 6 metros acima dos níveis atuais. O cenário atual é muito preocupante, pois o planeta está enfrentando diversas consequências das mudanças climáticas, a mais rápida da história do nosso planeta.
Nessa perspectiva, as observações de climas passados, realizados pelo Centro Científico e Tecnologicos da Universidade de Barcelona, confirmam as projeções climáticas disponíveis, sendo necessários a implementação de medidas para conter o aquecimento global abaixo de 1,5°C.
Para mais informações sobre o estudo "Rapid northern hemisphere ice sheet melting during the penultimate deglaciation", acesse a revista cientifica Nature.