O que aconteceria se a Terra fosse, de fato, plana?

A Terra é redonda ou plana? Parece uma pergunta com resposta óbvia, mas há muitos que defendem a teoria de que o nosso planeta é plano. O que aconteceria na Terra se esta fosse efetivamente plana? Saiba aqui!

Terra plana
Como alguns defensores da Terra Plana mapeiam o planeta. O Ártico está no centro, e nas extremidades existe uma “parede de gelo” para impedir as pessoas de caírem. (Imagem Ilustrativa)

A teoria de que a Terra é plana ganhou adeptos nos últimos anos, com a primeira conferência de "terraplanistas" realizada no final do ano de 2017, nos Estados Unidos da América. Há inclusive celebridades de Hollywood que a defendem.

No entanto, aqui iremos examinar de que forma os princípios bem conhecidos da física e da ciência funcionariam (ou não) em uma Terra plana. Consegue adivinhar quais são? Confira abaixo.

A gravidade falharia

Antes de mais, um planeta em forma de panqueca pode não ter qualquer tipo gravidade. Não é claro como é que a gravidade funcionaria, ou seria criada, em um mundo assim, afirmou James Davis, geofísico do Observatório Terrestre Lamont-Doherty da Universidade de Columbia.

Isso é de extrema importância, uma vez que a gravidade explica uma grande variedade de observações terrestres e cósmicas. A mesma força mensurável que faz com que uma maçã caia de uma árvore também faz com que a Lua orbite a Terra e todos os planetas orbitem o Sol.

Quem acredita em uma Terra plana assume que a gravidade puxaria diretamente para baixo, mas não há provas que sugiram que funcionaria dessa forma.

O que sabemos sobre a gravidade sugere que ela puxaria em direção ao centro do disco. Isso significa que só puxaria para baixo em um ponto do centro do disco. À medida que nos afastássemos cada vez mais do centro, a gravidade puxaria cada vez mais na horizontal.

A gravidade é o que mantém a matéria junta e o que contribui para que os planetas sejam redondos.

Isso teria alguns impactos estranhos, como atrair toda a água para o centro do mundo e fazer com que as árvores e as plantas crescessem na diagonal, uma vez que se desenvolvem na direção oposta à da gravidade.

A influência do Sol

Depois há o Sol. No modelo cientificamente sustentado do Sistema Solar, a Terra gira à volta do Sol, porque este é muito mais maciço e tem mais gravidade. No entanto, a Terra não cai no Sol porque está viajando em uma órbita. Por outras palavras, a gravidade do Sol não está atuando sozinha.

O planeta também se desloca em uma direção perpendicular à força gravitacional da estrela; se fosse possível desligar essa gravidade, a Terra dispararia em linha reta para fora do Sistema Solar.

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O modelo da Terra plana coloca o nosso planeta no centro do Universo, mas não sugere que o Sol orbite a Terra. Em vez disso, o Sol circula sobre a parte superior do mundo como um carrossel, emitindo luz e calor para baixo como um candeeiro de secretária. Sem o impulso linear e perpendicular que ajuda a gerar uma órbita, não é claro que força manteria o Sol e a Lua a pairar sobre a Terra, diz Davis, em vez de se chocarem contra ela.

Da mesma forma, em um mundo plano, os satélites provavelmente não seriam possíveis. Como é que eles orbitariam um avião? “Há uma série de missões de satélite de que a sociedade depende que simplesmente não funcionariam”, diz Davis. Por esta razão, frisa, “não consigo pensar como é que o GPS funcionaria em uma Terra plana”.

O Sol também teria de ser mais pequeno do que a Terra para não queimar ou chocar com o nosso planeta ou com a Lua.

Se o Sol e a Lua se limitassem a girar em torno de um dos lados de uma Terra plana, poderia presumivelmente haver uma procissão de dias e noites. Mas isso não explicaria as estações do ano, os eclipses e muitos outros fenómenos. O Sol também teria de ser mais pequeno do que a Terra para não queimar ou chocar com o nosso planeta ou com a Lua. No entanto, sabemos que o Sol tem mais de 100 vezes o diâmetro da Terra.

A tectônica de placas

O movimento das placas tectónicas e os movimentos sísmicos são explicados apenas com uma Terra redonda. "Só em uma esfera é que as placas se encaixam", diz Davis.

montanhas; tectónica de placas
Se a Terra fosse plana seria muito difícil explicar porque é que existem diferentes relevos em volta do globo.

Os movimentos das placas de um lado da Terra afetam os movimentos no outro lado. As áreas da Terra que criam formações para cima da crosta terrestre, como a Cordilheira dos Andes, são contrabalanceadas por outras que formam depressões, como os vales.

Nada disso seria explicado adequadamente com uma Terra plana. Não seria possível entender por que razão existem montanhas ou terremotos.

Também teria de haver uma explicação para o que acontece com as placas na extremidade do mundo. Poderíamos imaginar que elas cairiam, mas os terraplanistas defendem que lá existe um "muro de gelo", criado pela Antártica.

E como ficaria o nosso campo magnético?

As leis da física que conhecemos hoje em dia estabelecem que o núcleo da Terra cria o seu campo magnético.

Marte não consegue sustentar água líquida na sua superfície, graças à finíssima atmosfera que sofreu com o fim do campo magnético do planeta vermelho há biliões de anos.

Em um planeta plano, segundo os defensores desse modelo, este campo não existe. Sendo assim, não haveria uma atmosfera, o que faria com que o ar e os mares fossem parar ao espaço. Tal como ocorreu em Marte quando o planeta perdeu o seu campo magnético.

Desta forma, apesar de ser difícil imaginar como seria, de fato, a vida em uma Terra plana, e apesar de haverem outros argumentos, parece que devido a estes princípios básicos, a vida por si só, seria extremamente difícil de manter, pelo menos na mesma forma que a conhecemos.