O que as correntes marinhas nos contam sobre o óleo no litoral?
As machas de óleo continuam chegando em nossa costa e as investigações continuam. Entenda como a circulação oceânica ao longo de nossa costa pode ajudar a explicar o transporte de óleo e dar pista sobre a resposta de uma pergunta recorrente: as manchas chegarão no Sudeste?
O óleo ainda se espalha pelo litoral nordestino e as investigações sobre a origem do vazamento continuam. As questões que ainda prejudicam as modelagens de dispersão de óleo são com relação a quando e onde ocorreu o vazamento, além da quantidade e do tipo exato de produto vazado. A dinâmica da circulação oceânica ao longo da região impactada pode ajudar a explicar como o óleo chegou na costa e dá pistas sobre outras localidades que possam vir a ser afetadas.
O que as correntes marinhas podem dizer?
O que se sabe até agora é que o óleo chegou ao Brasil por intermédio da Corrente Sul Equatorial, entrando nos sistemas de correntes que fluem ao longo da nossa costa. Como o óleo afetou tanto as regiões norte quanto sul do Nordeste, é provável que o vazamento tenha ocorrido à leste ou na bifurcação da Corrente Sul Equatorial, que origina a Corrente do Brasil e a Corrente Norte do Brasil.
De acordo com as primeiras localidades atingidas, o óleo entrou primeiro na Corrente Norte do Brasil. As chegada das manchas na Bahia são evidência de que o óleo também foi transportado pela Corrente do Brasil, que flui para sul. No entanto, é importante destacar que não é por que as manchas entraram na Corrente do Brasil que elas chegarão nos estados mais ao sul.
A Corrente do Brasil flui ao longo do talude, na quebra da plataforma continental, que varia em largura ao longo da costa. Como a origem do vazamento foi no oceano profundo, para que o óleo chegue ao litoral, é necessário que ele entre primeiro na circulação da plataforma e isso depende de vários fatores como largura da plataforma, correntes de maré e vento.
"No Nordeste, a plataforma é bem estreita, variando de 20 a 70 km aproximadamente e, os movimentos de transporte para costa estão principalmente ligados à maré e ao vento transversal a costa. Esta região apresenta marés com grandes amplitudes, que faz com que o transporte para costa seja bem eficiente", explica Helvio P. Gregório, Doutor em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP). A combinação da corrente oceânica próxima à costa com uma corrente de maré mais forte, além dos ventos, contribuiu para a chegada das manchas.
As manchas chegarão no Sudeste?
Já no Sudeste, principalmente ao sul de Cabo-Frio (RJ), a plataforma começa a se alargar. Na região de Santos, por exemplo, a plataforma tem quase 200 km, fazendo com que a influência da Corrente do Brasil sobre a região costeira seja mais restrita. Além disso, a amplitude das marés no Sudeste são menores, o que torna a corrente de maré menos efetiva. Porém, é importante ressaltar que na região de Cabo Frio a Corrente do Brasil tem vórtices que, em determinadas configurações, podem transportar águas da borda da plataforma continental para regiões mais próximas da costa.
"A circulação na plataforma sudeste, especialmente da plataforma média, são lideradas principalmente pelo vento", explica Gregório. Ventos de nordeste promovem correntes para sul na plataforma, enquanto a passagem de uma frente-fria, com ventos sudoestes, inverte esse cenário. "Estamos entrando uma época que as frentes-frias ficam mais escassas, então existe uma tendência de correntes mais voltada para o sul na plataforma", completa.
Vários fatores podem influenciar o transporte de óleo para o sudeste, e tudo depende da quantidade de óleo que vazou originalmente. "É difícil imaginar que o óleo chegue no Sudeste de uma forma tão drástica como chegou no Nordeste - principalmente pela distância da provável origem do vazamento – porém, não é improvável que pequenos fragmentos atinjam algumas localidades", completa Gregório.