O que extinções em massa, mudanças climáticas e o mercúrio têm em comum?
Cientistas conseguiram conectar o mercúrio das emissões vulcânicas ao grande evento de extinção em massa do período Permiano - E isso pode mudar a maneira como enxergamos as mudanças climáticas atuais.
A última extinção em massa que ocorreu no fim do período Permiano (em inglês abreviado, LPME) foi a maior extinção na história da Terra. Por muito pouco, a Terra não se tornou um planeta sem vida. Cerca de 90% das espécies desapareceram naquilo que os cientistas batizaram de “A Grande Morte”.
O mundo, nesta época, se tornou paisagem devastada e árida: Não havia vegetação, o solo foi marcado pela erosão de chuvas ácidas, oceanos se tornaram imensas zonas mortas e o aquecimento descontrolado do efeito estufa levou o planeta a temperaturas escaldantes.
Embora o LPME tenha ocorrido aproximadamente 252 milhões de anos atrás, existem muitas semelhanças com as principais mudanças climáticas que ocorrem hoje - ou seja, uma injeção maciça de dióxido de carbono na atmosfera que levou a um rápido aquecimento do planeta.
Todas as evidências apontam que esta injeção foi causada por um vulcanismo maciço na região da Sibéria ocidental. Há depósitos vulcânicos de até cinco quilômetros de espessura cobrindo uma área equivalente aos Estados Unidos nessa região.
De qualquer maneira, embora seja hipótese mais bem aceita, ainda é muito difícil conectar a atividade vulcânica à extinção em massa. Por isso, cientistas de universidades americanas (UConn) e chinesas (CUG) se juntaram para estudar o material que mais pode fornecer evidências dessa conexão: o Mercúrio.
Como o mercúrio associou definitivamente a Grande Morte à atividade vulcânica na Sibéria?
Acontece que, além da lava e dos gases-estufa, os vulcões também lançaram uma grande quantidade de partículas e metais pesados na atmosfera, que posteriormente foram depositados ao redor de todo o planeta. Um destes metais foi o mercúrio.
Os pesquisadores descobriram que a grande vantagem de se trabalhar com o Mercúrio é que suas emissões têm uma composição isotópica muito específica que pode ser facilmente utilizada para extrair informações a respeito deste evento.
Utilizando registros geológicos coletados da Bacia de Sydney, no leste da Austrália, e da Bacia de Karoo, na África do Sul, os pesquisadores tiveram acesso a um registro contínuo da história da Terra contido em sedimentos de ambientes marinhos. Essas amostras funcionam quase como um grande livro capaz de contar toda a história terrestre.
O que isso sugere é que a grande extinção não foi instantânea, como algo causado de uma vez por um grande golpe. Ela ocorreu ao longo de um período de centenas de milhares de anos e através de mudanças climáticas muito gradativas.
Mas de qualquer maneira, agora os cientistas finalmente conhecem um assinatura que amarra definitivamente a grande extinção com a atividade vulcânica da Sibéria, através dos isótopos de mercúrio. Isso muda completamente o panorama dos estudos geológicos futuros.
O resultado se destaca especialmente porque podemos estar passando novamente pelo mesmo processo de extinção que o planeta vivenciou naquela época, na forma de mudanças climáticas gradativas. Entender o passado pode ser a chave para se preparar para o futuro.