O sal dos oceanos está tornando os raios mais intensos
Estudo sugere que a salinidade dos oceanos faz com que as descargas elétricas marítimas durante tempestades sejam mais intensas do que os raios que ocorrem em terra firme.
Nas últimas décadas, cientistas demonstraram que os relâmpagos sobre os oceanos são significativamente mais intensos do que sobre a terra, embora sejam muito menos frequentes. Apenas 10% do total de raios ocorre sobre os oceanos, enquanto os 90% restantes acontecem sobre os continentes.
Raios sobre a água do oceano podem ser diversas vezes mais brilhantes que o normal, e a razão dessa discrepância é um mistério há muito tempo discutido. Finalmente, um estudo publicado na Journal of Atmospheric and Solar-Terrestrial Physics pode ter começado a desvendar esta questão.
Mustafa Asfur, pesquisador marítimo, estava estudando como os relâmpagos afetam a química da água dos oceanos, quando descobriu que o oposto poderia estar acontecendo: A química da água estaria afetando os raios.
Para entender este fenômeno, o cientista e seus colaboradores montaram um experimento de laboratório onde geravam raios artificiais sobre superfícies de solo e água com diferentes concentrações de sal. Desta maneira, os cientistas puderam examinar a intensidade do flash dos relâmpagos em função da salinidade da água.
Os resultados mostraram claramente que a intensidade do raio aumenta de maneira exponencial com a concentração de sais dissolvidos na água. Isso significa que quanto mais sal houver, mais intenso será o relâmpago.
Durante o experimento, Asfur coletou água muito salgada do Mar Morto, além de amostras menos salgadas do Mediterrâneo e do Mar da Galiléia. A água da Galiléia contém pouquíssimo sal, mas ainda assim formava raios mais brilhantes que o solo úmido. As descargas sobre a água do Mar Morto eram quase 40 vezes mais brilhantes.
A hipótese elaborada pelos cientistas é de que a água salina do oceano é melhor condutora do que o solo, mesmo quando úmido. Em termos técnicos, isto resulta em uma transferência de carga mais eficiente para a superfície. Desta maneira há maiores descargas de corrente de pico e o brilho dos raios fica muito mais intenso.
A pesquisa foi um grande passo para entender como os oceanos e mares salgados podem ser responsáveis por uma intensificação dos raios, e como o fenômeno pode impactar embarcações e atividades humanas sobre o oceano.
Ainda assim, os cientistas destacaram que há uma grande diferença entre estudos de laboratório em pequena escala e relâmpagos reais. Há muitos processos dinâmicos que não foram considerados e que ainda precisam ser investigados no futuro.