Onda de calor seria impossível sem o efeito do aquecimento global
A onda de calor extrema que atingiu o oeste do Canadá e Estados Unidos no final de junho não teria ocorrido sem os efeitos causados pelo aquecimento global. Isso é o que mostra uma análise feita por mais de 20 cientistas de diversos países.
O verão do Hemisfério Norte tem sido extremo e fatal, principalmente para o oeste dos Estados Unidos e Canadá, que têm vivenciado sucessivos episódios de ondas de calor extremas, onde os termômetros têm alcançado temperaturas nunca antes observadas e esperadas para essa região do planeta.
O episódio mais extremo de calor ocorreu no final de junho, entre o dia 25 de junho e 1° de julho, afetando diversas cidades que raras vezes experimentaram calor tão extremo, como Portland, Seattle e Vancouver. Na província canadense de Colúmbia Britânica mais de 700 mortes e 200 incêndios florestais foram registrados em decorrência do calor excessivo. A pequena cidade de Lytton, que foi consumida pelo fogo, registrou a maior temperatura da história do Canadá, de 49.6°C no dia 29 de junho.
Um grupo de 27 cientistas de diversos países fizeram uma rápida análise para inferir se o aquecimento global, induzido pelo aumento das concentrações de gases de efeito estufa pelas atividades humanas, influenciou na probabilidade de ocorrência de uma onda de calor tão intensa quanto essa na região, tornando-a mais provável no clima atual.
Os cientistas compararam os registros de temperaturas máximas diárias observadas durante a onda de calor com as temperaturas máximas previstas por modelos climáticos, incluindo simulações de temperaturas considerando a atmosfera inalterada pelos efeitos do aumento da concentração de gases de efeito estufa.
Seus resultados mostraram que a influência das mudanças climáticas é inequívoca, o aumento da temperatura média da Terra de 1.2°C desde o período pré-industrial tornou essa onda de calor extrema pelo menos 150 vezes mais provável de ocorrer!
As temperaturas máximas observadas foram tão extremas que estiveram muito fora da faixa de temperaturas historicamente observadas, ficando até 5°C acima que os recordes anteriores na região. Esses extremos tornam difícil determinar com precisão o quão raro uma onda de calor tão intensa pode ter sido em períodos mais frios do passado e com que frequência pode ocorrer no clima atual. Até então, os dados indicam que no clima atual esse foi um evento extremamente raro, com uma probabilidade de ocorrência de cerca de 1 em 1000 anos.
“Essa onda de calor teria sido virtualmente impossível sem a influência das mudanças climáticas causadas pelas atividades humanas” disse Sjoukje Philip, cientista climático do Instituto Real de Meteorologia da Holanda (KNMI, sigla em inglês) que fez parte dessa análise, “Provavelmente o evento ainda é raro, mas se o aquecimento global ultrapassar 2°C, eventos assim poderão ocorrer a cada 5 a 10 anos no futuro.”