Os manguezais do Brasil têm o potencial de gerar R$ 48 bilhões por meio de créditos de carbono

Um estudo, inédito em calcular o sequestro de carbono pelos manguezais no Brasil, identificou mais de 1 milhão de hectares desse ecossistema ao longo da costa brasileira.

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Estudo revela que os manguezais do Brasil armazenam 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono. Foto: Leonardo Merçon.

Os manguezais brasileiros sequestram 1,9 bilhão de toneladas de dióxido de carbono, o que pode gerar R$ 48,9 bilhões em créditos de carbono no mercado voluntário, podendo atingir até R$ 1,067 trilhão com regulamentação. Este estudo, feito pela Fundação Grupo Boticário e o projeto Cazul, foi divulgado na 16ª Conferência de Biodiversidade da ONU (COP 16) em Cali, Colômbia.

O estudo considerou informações sobre as áreas de manguezal no Brasil por meio da interpretação visual e classificação automática de imagens de satélite, utilizando a base de dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (IBAMA).

Com imagens temporais da plataforma Google Earth Engine traçamos parâmetros para avaliar o estado de conservação das áreas e o índice de vegetação associado para auxiliar nos cálculos de estoque de carbono, entendendo a quantidade de dióxido de carbono que é acumulado em cada estrutura das florestas de manguezal, explica Laís de Oliveira, líder executiva do projeto Cazul.

No mercado voluntário de carbono do Brasil, o preço da tonelada de CO2 foi negociado a R$ 25,85, com cotação do dólar a R$ 5,62. Contudo, esse valor pode subir para R$ 562,00 por tonelada em um cenário de economia de baixo carbono.

A maior parte do carbono azul está estocada em manguezais conectados com a Amazônia, seguido pela Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Considerando o crescimento de 2,9 milhões de toneladas do estoque de carbono azul anualmente, os pesquisadores preveem um incremento de R$ 75,2 milhões por ano, que pode alcançar até R$ 1,6 bilhão em um cenário de precificação potencial.

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Ranking dos estados com maior potencial de gerar lucro por meio dos créditos de carbono. Fonte: Cazul.

O estudo avaliou a viabilidade econômica dos estoques de carbono e as práticas adotadas, considerando dois cenários de valoração: um baseado nas práticas atuais e outro projetado para um mercado de carbono em um cenário de transformação climática, que exige novos estímulos para ações efetivas.

O Brasil possui 1.390.664 hectares de manguezais no litoral

    O Brasil, detentor da segunda maior área de manguezais no mundo, abriga a maior faixa contínua desse ecossistema na costa Amazônica. Embora seja uma grande parte em relação a outros países, os manguezais representam apenas 0,13% do território nacional. Estima-se que cerca de 25% da vegetação original dos manguezais tenha sido perdida.

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    Extensão dos manguezais no Brasil é de mais de 1 milhão de hectares. Fonte: Cazul.

    A pesquisa revelou que os manguezais estão presentes em 300 municípios brasileiros, com maior concentração nas regiões Norte e Nordeste, especialmente no Pará, Maranhão e Amapá, abrangendo 40 milhões de pessoas. Quanto aos biomas, 75% dos manguezais estão associados à Amazônia, 18% à Mata Atlântica, 5% ao Cerrado e 2% à Caatinga.

    Benefícios dos manguezais:

    • Berçário para a vida marinha;
    • Equilíbrio ecológico;
    • Filtros naturais;
    • Amortecedores da força das ondas, marés e tempestades.

    Apenas cinco países concentram cerca de 50% das áreas de manguezais do mundo: Indonésia (20% do total), Brasil (8%), México (7%), Austrália (7%) e Nigéria (6%). No mundo, os manguezais estocam 22,86 bilhões de toneladas de CO2, segundo a Global Mangrove Alliance. Políticas e planos de adaptação às mudanças do clima, gestão de riscos e desenvolvimento costeiro devem incluir medidas para proteger, conservar e restaurar manguezais. Essas ações merecem a atenção de tomadores de decisão, iniciativa privada e de toda a sociedade