Pesquisa aponta que a poluição do ar aumenta os riscos de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Pesquisa revela que poluição do ar de São Paulo pode favorecer o aparecimento de doenças cardíacas, e a hipertensão aumento mais ainda este risco.

São Paulo
Poluição do ar aumento os riscos de doenças cardíacas na cidade de São Paulo. Foto: Diário do Transporte.

Mais de 11,2 mil pessoas morrem todos os anos no estado de São Paulo por problemas de saúde agravados pela alta quantidade de poluentes no ar, segundo o levantamento realizado pelo Instituto Saúde e Sustentabilidade.

Esta relação entre morar em uma cidade poluída e doenças pulmonares é bem conhecida pelos moradores de São Paulo. Pesquisas inéditas mostram que a exposição prolongada à poluição do ar está diretamente ligada ao aumento dos riscos cardíacos em residentes da capital.

O aumento do risco cardíaco está relacionado com a poluição do ar de São Paulo

O estudo, publicado na revista Environmental Research, foi conduzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo. A pesquisa mostra que a fibrose cardíaca, indicativo de doença cardíaca, está relacionada com a duração da exposição às partículas de carbono negro (carbon black), que é um material particulado extremamente poluente e sua principal fonte vem de incêndios florestais.

Foram obtidos dados epidemiológicos e realização de autópsias em 238 pessoas, além de entrevistar familiares das vítimas para coletar informações sobre fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão.

Por meio da observação macroscópica do tecido pulmonar, determinaram a presença e a quantidade da fração de carbono nos pulmões, sendo capaz de identificar a fibrose cardíaca.

Os resultados mostraram uma correlação significativa entre a quantidade de carbono nos pulmões e fibrose cardíaca nos indivíduos estudados. Ou seja, isto significa que quanto mais tempo uma pessoa fica exposta à poluição, maior é a probabilidade de desenvolver fibrose. Estes dados destacam o papel crucial da investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças, afirma o professor da USP, Paula Saldiva.

Pesquisa
Relação entre o risco de doenças cardíacas com a exposição a poluição do ar. Fonte: Takano et al., 2024.

Outro aspecto observado foi o aumento do risco em pessoas hipertensas. A presença do marcador de doenças cardíacas aumenta a probabilidade de exposição à poluição, tanto em fumantes quanto em não fumantes.

Quanto mais tempo você passa no trânsito, mais poluição você inala

Quando a hipertensão é silenciosa, a poluição nem sempre é visível. E a exposição à poluição dentro de uma mesma cidade depende de fatores como os hábitos das pessoas e os deslocamentos diários. De acordo com Saldiva, existem dois indicadores de poluição, um medido pela Empresa Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), e outro relacionado ao quanto cada indivíduo está exposto.

Saldiva explica que vários fatores, como a própria hipertensão, influenciam o desenvolvimento da fibrose cardíaca, e que agora se demonstrou que a poluição é um deles.

Ou seja, o nível de concentração da poluição ambiental não significa que a mesma dose seja recebida por todos. Assim, uma pessoa que fica horas em um corredor de trânsito, recebe uma maior quantidade, pois a concentração desse ambiente é maior.

A pesquisa da USP traz evidências dos impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular, destacando a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população à poluição do ar. Algumas das estratégias eficazes para mitigar os impactos da poluição atmosférica é o investimento em transporte público sustentável, assim como a implementação de medidas eficazes para reduzir a emissão dos veículos.

Referência da notícia

Takano, A. P. C., de André, C. D. S., de Almeida, R., Waked, D., Veras, M. M., & Saldiva, P. H. N. Association of pulmonary black carbon accumulation with cardiac fibrosis in residents of Sao Paulo, Brazil. Environmental research, 248, 118380, 2024.