Pesquisadores registram comportamento único de onças-pintadas na Amazônia; confira aqui

Durante a cheia dos rios, onças-pintadas podem viver por meses nas copas de árvores. Pesquisadores estudam os felinos há 20 anos na Reserva Mamirauá.

Onça-pintada registrada na Reserva Mamirauá
Em florestas inundadas, onças vivem por meses no alto de árvores. Crédito: Adriano Gambarini

A onça-pintada (Panthera onca) é o maior felino das Américas e o terceiro maior do mundo. Um predador de topo de cadeia, o animal é conhecido por sua força e imponência, assim como pela graça e sutileza com que se movimenta pela floresta. O que poucas pessoas sabem é que onças-pintadas também são capazes de escalar e morar em cima de árvores por alguns meses, se necessário. Esse comportamento único é registrado por cientistas na Amazônia Brasileira.

Onças-pintadas são adaptadas à vida nas florestas inundáveis na Amazônia

Essa prática curiosa é observada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RDSM), a cerca de 600 km de Manaus (AM). Essa área protegida de mais de 1 milhão de hectares é formada em grande parte por florestas inundáveis, conhecidas como várzeas.

Durante a temporada de cheia, que costuma ocorrer entre novembro e julho, o nível dos rios aumenta e as águas avançam e encobrem o chão da mata. Animais, plantas e as comunidades humanas convivem há muito tempo com essa dinâmica, na qual “adaptação” é a palavra-chave.

Para as onças-pintadas, isso envolve o comportamento sazonal de habitar grandes galhos no topo de árvores resistentes como o apuí (Ficus trigona L.f.). As características do ambiente ajudam a explicar essa flexibilidade: as onças nessa parte da Amazônia são menores e mais leves em comparação a exemplares da espécie em outros biomas brasileiros. A maior onça registrada na Reserva Mamirauá pesa 72 kg, enquanto no Pantanal o felino pode passar de 100 kg.

A dieta das onças-pintadas na região fica mais restrita no período de cheia dos rios. A preguiça-bentinho (Bradypus tridactylus) é a presa principal desses animais, que, além de ótimas caçadoras e escaladoras, são exímias nadadoras e se locomovem entre árvores nas florestas alagadas.

Iauaretê: 20 anos de pesquisas com foco em onças-pintadas na Amazônia

Essas informações detalhadas sobre a ecologia de onças-pintadas são frutos do trabalho duradouro do Projeto Iauaretê (do tupi, “iauara” significa onça e “etê” verdadeira). A iniciativa é realizada pelo Grupo de Felinos do Instituto Mamirauá e é a primeira a desenvolver estudos de longo prazo sobre a espécie na Amazônia.

Pesquisadores de onças-pintadas em Mamirauá
Iniciativa estuda ecologia de onças-pintadas nessa parte da Amazônia. Créditos: Amanda Lelis

O projeto atua em quatro linhas principais de investigação: dinâmica populacional da onça-pintada nas Reservas Mamirauá e Amanã; uso de habitat, epidemiologia e conflitos entre felinos silvestres e populações tradicionais. Os dados de câmeras fotográficas, colares VHF e GPS e coletas biológicas, entre outras ferramentas, ajudam a entender melhor a distribuição geográfica, o comportamento e saúde dos animais, contribuindo com planos de conservação da onça-pintada.

Recentemente, o instituto lançou “As Onças de Mamirauá”, livro que reúne um resumo do histórico de pesquisas, monitoramento e registros de onças-pintadas na Reserva Mamirauá. A publicação celebra os vinte anos de atividade do projeto Iauaretê, completados em 2024. Acesse e baixe gratuitamente o livro.

O lançamento foi feito em 29 de novembro, Dia Internacional da Onça-Pintada. A data foi estabelecida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) para fortalecer a conscientização pública sobre a importância de proteger o maior felino das Américas.

Referência da notícia

Instituto Mamirauá. As Onças do Mamirauá. 2024