‘Pontos críticos’ inexplicáveis de ondas de calor estão surgindo em todo o mundo
Uma pesquisa recente identificou o aparecimento de 'pontos críticos' de ondas de calor em todo o globo, os quais ultrapassam as projeções dos modelos climáticos. E ainda não se sabe o porquê disso.
As ondas de calor são eventos climáticos caracterizados por temperaturas extremamente altas, que superam os níveis esperados para uma determinada região e época do ano. E nos últimos anos temos ouvido falar muito desse tipo de evento.
Inclusive, a última década tem sido a mais quente, com vários recordes de temperaturas sendo quebrados ao redor do globo. Até agora, as 10 temperaturas médias anuais mais altas ocorreram na última década, segundo a Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês).
Agora, um estudo recente publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) identificou o surgimento de ‘pontos críticos’ regionais de ondas de calor em várias regiões do planeta, os quais ultrapassam as simulações de modelos climáticos, isto é, o aumento da temperatura vai muito além do que os modelos atuais conseguem explicar. Veja mais informações abaixo.
Modelos climáticos não conseguem explicar as ondas de calor
Para chegar a esses resultados, os autores analisaram as ondas de calor dos últimos 65 anos no globo, identificando áreas onde o calor extremo está acelerando consideravelmente mais rápido do que as temperaturas mais moderadas.
Segundo o estudo, nesses pontos críticos as ondas de calor são tão extremas que vão muito além do que qualquer modelo climático atual pode prever ou explicar. É como se esses pontos fossem “estufas temporárias“, como dizem os autores do artigo.
A pesquisa afirma que “as margens grandes e inesperadas pelas quais extremos recentes em escala regional quebraram recordes anteriores, levantaram questões sobre o grau em que os modelos climáticos podem fornecer estimativas adequadas das relações entre mudanças na temperatura média global e riscos climáticos regionais”.
Com isso, o estudo fornece então o primeiro mapa mundial desses pontos críticos, que aparecem em todos os continentes, exceto na Antártica, conforme visto na figura abaixo:
Logo, segundo esse mapa, os pontos críticos globais seriam: o Alto Ártico, o noroeste do Canadá, o extremo sul da América do Sul, noroeste da Europa, Península Arábica, a China central, o Japão/Coréia e a Austrália Oriental.
Por outro lado, o estudo mostrou pontos que registraram aumentos de temperatura bem menores do que o previsto, como no norte da África e na Sibéria. Na verdade, o calor também está aumentando nessas regiões, mas os extremos estão aumentando a uma velocidade menor do que as mudanças na média sugeriram.
E o que está por trás disso?
Ainda não se sabe as causas exatas desses surtos de ondas de calor extremas, mas a pesquisa aponta que esses focos podem estar relacionados com as mudanças climáticas.
Outro possível fator levantado seriam oscilações na corrente de jato no Hemisfério Norte.
Alerta: os ‘pontos críticos’ de calor são sem precedentes
Conforme o estudo, o sinal mais intenso e consistente é o do noroeste da Europa. Nesse continente, as sequências de ondas de calor extremas contribuíram para cerca de 60.000 mortes em 2022 e 47.000 mortes em 2023.
Além disso, os dias mais quentes do ano estão esquentando duas vezes mais rápido do que as temperaturas médias do verão nesse continente; ou seja, essa é uma região especialmente vulnerável.
"Devido à sua natureza sem precedentes, essas ondas de calor geralmente estão associadas a impactos muito graves à saúde e podem ser desastrosas para a agricultura, vegetação e infraestrutura", disse Kai Kornhuber, autor principal do estudo.
Referências da notícia:
Kornhuber, K. et al. Global emergence of regional heatwave hotspots outpaces climate model simulations. The Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 121, n. 49, 2024.
Columbia Climate School. “Unexplained Heat-Wave ‘Hotspots’ Are Popping Up Across the Globe”. 2024.