Por que nossos dedos enrugam quando passamos algum tempo debaixo d'água?

Quando crianças ficávamos fascinados por esta estranha mudança na pele dos dedos depois de passar bons momentos no mar, na piscina ou no chuveiro. Por que isso acontece com a pele das mãos e dos pés, e não com outras áreas do corpo? Que segredo antigo nossos dedos molhados revelam?

Durante muitos anos acreditou-se que as rugas na pele após a exposição à água vinham de um processo de osmose, no qual a água entra na pele e a faz inchar. Mas aí, pesquisas científicas lançam luz sobre o que realmente acontece.

A resposta está nas ordens automáticas que nosso sistema nervoso envia aos vasos sanguíneos das extremidades. É um mecanismo adaptativo que tem milhões de anos e excede completamente a nossa consciência.

A pele, nosso maior órgão, desempenha um papel vital na proteção contra o entorno e na regulação dos processos do nosso corpo. Sua camada mais externa é chamada de estrato córneo e compreende cerca de 20 subcamadas de células mortas, achatadas e compactadas com proteínas e lipídios.

Mas quando ficamos alguns minutos debaixo d'água e ela penetra na pele, desequilibra os eletrólitos, que são os minerais presentes em muitas substâncias corporais e que contêm íons livres, por isso se comportam como condutores elétricos.

Sem que percebamos, um sinal é enviado ao cérebro e ele, através do sistema nervoso autônomo, dá uma ordem: contrair os capilares subcutâneos e reduzir o fluxo sanguíneo na região.

A contração dos vasos sanguíneos é maior nas camadas profundas da pele e menor nas camadas mais superficiais. Assim, as camadas superiores tornam-se mais espessas e largas e as camadas mais profundas tornam-se mais finas. Essa “irregularidade” forma rugas nas pontas dos dedos.

O processo não é instantâneo e geralmente leva cerca de 10 minutos para se manifestar totalmente. Também não acaba imediatamente. Demora cerca de 15 ou 20 minutos para reverter. Mas esses tempos podem variar dependendo da temperatura da água.

Força e aderência milenares

Qual é a vantagem evolutiva deste mecanismo? A pesquisa mostrou que os dedos enrugados atuam como faixas de fricção, canalizando a água para longe das pontas dos dedos e melhorando a aderência em superfícies molhadas.

A hipótese sugere que esta adaptação poderá ter permitido aos nossos antepassados caminhar por zonas escorregadias, mas sobretudo, coletar alimentos com mais facilidade em ambientes úmidos, como os moluscos nas zonas costeiras.

A natureza sempre encontra maneiras de nos preparar para os desafios ambientais, mesmo nas pequenas coisas como um banho demorado. Então, da próxima vez que você notar seus dedos enrugados após um mergulho, lembre-se de que isso faz parte da história da evolução humana.