Por que o cérebro mantém algumas memórias e outras não? Estudo da Nature explica
O novo estudo da Nature mostrou que experiências consideradas surpreendentes são mais memoráveis do que as experiências cotidianas. Entenda aqui o porquê disso.
A memória é o armazenamento de informações e fatos obtidos através de experiências ouvidas ou vividas. É uma das funções mais complexas do organismo humano, realizada por um conjunto de neurônios conectados em uma rede e espalhados por diferentes regiões do cérebro. Vários estudos já foram feitos para entender como as memórias se foram e são armazenadas, por exemplo.
Agora, em um novo estudo, publicado recentemente na revista Nature Human Behavior, pesquisadores da Universidade de Yale, em New Haven (EUA), investigaram por que o cérebro mantém a memória de algumas experiências enquanto outras são descartadas. Veja os principais resultados abaixo.
Apenas algumas memórias são mantidas
Para a pesquisa, os autores elaboraram um modelo computacional inovador que foca em dois processos essenciais para a formação da memória: a compreensão daquilo que se pode ver e a reconstrução dessa memória. Então, eles o combinaram com resultados de vários testes comportamentais que foram realizados, nos quais os participantes foram solicitados a recordar algumas imagens específicas de uma sequência de imagens naturais mostradas em rápida sucessão.
Foi observado que os participantes tinham maior probabilidade de lembrar de uma imagem quando era mais desafiador reconstruir o modelo computacional correspondente a ela – ou seja, imagens mais “marcantes”.
Logo, nosso cérebro prioriza aquilo que é surpreendente, que não é capaz de explicar. Por exemplo, uma pessoa pode se confundir com a presença de um hidrante em uma floresta, o que torna a imagem difícil de interpretar e, consequentemente, mais memorável. É possível dizer que muitas das memórias não são resultado de uma escolha intencional, mas de um subproduto da percepção.
“Usamos um modelo de inteligência artificial para tentar esclarecer a percepção das cenas pelas pessoas. Esse entendimento pode ajudar no desenvolvimento de sistemas de memória mais eficientes para a inteligência artificial no futuro”, disse John Lafferty, um dos coautores do estudo.
E como as memórias são armazenadas no nosso cérebro?
A memória é armazenada através de três estágios: codificação (entrada da informação), consolidação (armazenamento) e recordação.
A codificação é a entrada de informações novas no sistema de memória. Envolve a transformação de estímulos do ambiente, de diferentes modalidades sensoriais (auditivos, visuais, táteis), na construção de redes eletroquímicas de neurônios.
A segunda etapa, consolidação, é o armazenamento da informação e manutenção das redes neuronais construídas no processo de codificação. Esse processo ocorre durante o sono, quando os neurônios envolvidos são reativados. E o armazenamento depende da relevância, repetição e do emocional das informações codificadas em forma de circuitos de neurônios.
Na presença de elementos (informações em forma de fala, desenhos, gestos ou outras manifestações comportamentais) em nosso ambiente semelhantes aos da memória, ela (memória) pode então reaparecer. Esta é a recordação, que consiste na reconstrução das redes neurais desenvolvidas no processo de codificação, ou seja, os neurônios que estavam ativos durante a codificação são reativados.
Referências da notícia:
Lin, Q. et al. Images with harder-to-reconstruct visual representations leave stronger memory traces. Nature Human Behaviour, 2024.
The Conversation. “Comment les souvenirs sont-ils stockés dans notre cerveau?”. 2024