Quais os riscos que a fumaça de queimadas traz para o corpo humano?

O Brasil vem sofrendo com muitos incêndios na Amazônia nos últimos dias, e especialistas explicam que a fumaça das queimadas aumenta o risco de doenças cerebrais e prejudica pulmões e rins.

fumaça de queimadas
Capital Brasília encoberta pela fumaça das queimadas na Amazônia em 25 de agosto deste ano. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

A região da Amazônia está passando por um período difícil. Além do desmatamento e da seca severa, está sofrendo com incêndios nos últimos dias, principalmente na parte sul. A fumaça das queimadas chegou às regiões Sul e Sudeste do país, cobrindo o céu de várias cidades.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), considerando o mês de agosto (até o dia 28), foram registrados 31.130 focos ativos de queimadas na Amazônia, quase o dobro do mesmo período no ano passado.

E isso que está acontecendo levantou uma questão: como a fumaça de incêndios florestais afetam o nosso corpo? Acompanhe aqui conosco o que dizem os especialistas.

Danos ao cérebro

As partículas poluentes presentes no ar podem chegar ao nosso cérebro de diversas formas e, segundo Anthony White, neurocientista do QIMR Berghofer Medical Research Institute, na Austrália, “Uma vez lá, o material particulado pode danificar os neurônios tanto diretamente, por meio do acúmulo de moléculas nocivas e instáveis chamadas radicais livres, quanto indiretamente”.

Vários estudos sugeriram a probabilidade de efeitos cognitivos de longo prazo ao cérebro devido à exposição à fumaça de incêndios.

E indiretamente faz isso acionando as células imunológicas para liberar moléculas que prejudicam ou matam os neurônios e interrompem as conexões que permitem que as células cerebrais se comuniquem e armazenem memórias, mesmo que os neurônios não morram.

Além disso, há indícios fortes que sugerem que a fumaça de lenhas de fogão aumentam o risco de Alzheimer e outras demências, além de aumentar o risco de depressão.

Efeitos no sistema imunológico e nos pulmões

Chris Migliaccio, toxicologista da Universidade de Montana, nos EUA, identificou que entre 1 e 2 anos após incêndios florestais em Seeley Lake, Montana, em 2017, os moradores locais apresentaram reduções significativas na função pulmonar – a capacidade de esvaziar os pulmões rapidamente.

Em um estudo com macacos, Lisa Miller, imunologista da Universidade da Califórnia em Davis, nos EUA, identificou que as células imunológicas dos animais apresentaram uma resposta defeituosa, sugerindo que não seriam capazes de montar uma defesa robusta contra uma infecção bacteriana; isso após os animais entrarem em contato com a fumaça de incêndios florestais. E embora os macacos não sejam um substituto perfeito para os humanos, eles são o mais próximo possível.

fumaça, Porto Alegre
Cidade de Porto Alegre (RS) na tarde de quinta-feira, 29 de agosto de 2024, encoberta pela fumaça das queimadas da Amazônia. Crédito: Mateus Bruxel/Agência RBS.

Além disso, Miller notou mudanças “bastante impressionantes” na estrutura pulmonar dos macacos: seus pulmões estavam mais rígidos e com menor volume. “Eles têm o que parece ser evidência de doença pulmonar intersticial, um conjunto de condições que causam cicatrizes nos pulmões”, disse.

Outro estudo analisou as taxas de gripe e a exposição à fumaça de incêndios florestais em Montana (EUA) e descobriu que houve uma piora nos índices de gripe no período subsequente aos incêndios.

Outros efeitos

A fumaça de queimada pode exacerbar doenças como asma e DPOC (Doença pulmonar obstrutiva crônica), aumentar o risco de ataque cardíaco e derrame, e causar inflamação nos rins, fígado e pulmão.

Mais estudos estão sendo realizados para entender melhor os efeitos a longo prazo sobre a saúde devido aos incêndios florestais. Contudo, White já afirma: “quanto menor a exposição, melhor”.

Referência da notícia:

National Geographic. “Como a fumaça das queimadas afeta o corpo humano? Os danos podem ser permanentemente, explicam os cientistas”. 2024.