Queimadas que estão atingindo o Pantanal podem causar danos irreversíveis ao bioma

Nos primeiros seis meses de 2024, o Brasil registrou um aumento significativo de incêndios florestais no Pantanal. Agora, pesquisas recentes indicam que os incêndios podem afetar a biodiversidade do Pantanal de maneira irreversível.

Queimadas que estão atingindo o Pantanal podem causar danos irreversíveis ao bioma
O Brasil registrou aumento significativo de incêndios no Pantanal durante 2024, o que pode afetar a biodiversidade do bioma de maneira irreversível.

O fogo que se alastra pelo Pantanal pode ter consequências ambientais profundas para o Bioma. Pesquisadores descobriram que, um ano após as queimadas de 2020, a diversidade de mamíferos e a abundância de animais haviam caído pela metade nas áreas mais atingidas. Espécies ameaçadas como a anta e o tamanduá-bandeira foram ainda mais afetadas, com populações diminuindo cerca de dez vezes.

Pesquisas indicam que a fauna do Pantanal ainda está fragilizada, e novos incêndios podem descaracterizar hábitats e causar extinções locais. Isso acontece porque, após um primeiro incêndio, a ocorrência de um segundo incêndio em pouco tempo pode levar o ecossistema a um estado permanente de degradação.

O estudo descobriu que o maior impacto dos incêndios ocorreu nas florestas alagadas, onde a riqueza de espécies caiu pela metade e algumas espécies de animais desapareceram quase que completamente. Estudos semelhantes em outras áreas do Pantanal mostraram que espécies como o tatu-canastra sofreram quedas populacionais drásticas de até 80%.

Incêndios florestais de 2024 podem causar danos irreversíveis

Na maior parte do Brasil, o primeiro semestre raramente apresenta grandes incêndios florestais, com 70% a 90% dos focos de fogo ocorrendo na segunda metade do ano, quando os meses são mais secos. No entanto, a quantidade de queimadas registradas entre Janeiro e Julho de 2024 já é o maior número das últimas décadas.

Queimadas que estão atingindo o Pantanal podem causar danos irreversíveis ao bioma
A Estação Ecológica do Taiamã, afetada severamente pelos incêndios de 2021, ainda não foi capaz de se recuperar e está em risco de degradação permanente em caso de novos incêndios.

O Pantanal foi a região mais afetada, com mais de 16 vezes mais incêndios do que o registrado no mesmo período de 2023. Apenas em junho, 4060 km² do Pantanal queimaram. Em todo o primeiro semestre, a área afetada por focos de fogo no Pantanal atingiu 7227 km², um recorde histórico. Confira como os números de queimadas subiram de 2023 para 2024:

  • Janeiro: de 21 para 310
  • Fevereiro: de 9 para 73
  • Março: de 12 para 176
  • Abril: de 15 para 94
  • Maio: de 33 para 246
  • Junho: de 77 para 2639
  • Julho: de 126 para 1218
  • Agosto: de 110 para 2109 (isso porque o mês mal começou)

Agora, o impacto dos incêndios atuais, caso continuem se alastrando, depende de quais áreas serão afetadas. Em áreas que já foram queimadas anteriormente nos últimos anos, os efeitos podem se mostrar devastadores; nas outras, o impacto talvez seja menos intensos.

Quem causa as queimadas e os incêndios florestais?

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), praticamente todas as queimadas da América do Sul são causadas por seres humanos, por razões variadas: desde limpeza de pastos, preparo de plantios, desmatamentos e colheita manual de cana-de-açúcar, até vandalismo, queda de balões e disputas fundiárias.

Queimadas que estão atingindo o Pantanal podem causar danos irreversíveis ao bioma
Praticamente todas as queimadas da América do Sul são causadas por seres humanos, por razões variadas e, num geral, associadas a atividades agropecuárias.

Queimadas naturais são geralmente causadas por raios durante tempestades, que atingem a vegetação e iniciam o fogo. Durante a estiagem prolongada e intensa passamos durante o inverno, praticamente não há tempestades. E, mesmo assim, é neste período que mais se queima no Brasil. Isso, naturalmente, deixa a responsabilidade pela grande maioria dos incêndios nas mãos do ser humano.

Referências da notícia:
Marcos Pivetta. Pantanal bate recorde de incêndios no primeiro semestre e sinaliza avanço das queimadas no país. Revista Fapesp ed. 342, 2024.
Gilberto Stam. Atual queimada pode mudar para sempre o bioma do Pantanal. Revista Fapesp ed. 342, 2024.