“Raio seco”: que fenômeno é esse e como ele causa incêndios florestais?
Um ‘raio seco’ é como uma faísca elétrica muito poderosa que ocorre mesmo quando não há nuvens de chuva na atmosfera, e pode causar incêndios florestais devastadores até em locais remotos de difícil acesso.
O ‘raio seco’, ou “dry lightning” em inglês, é um raio que ocorre da nuvem para o solo na presença de pouca ou nenhuma chuva. Acontece que a chuva é produzida, mas ela não chega ao solo devido ao ar tão seco e quente, fazendo com que evapore. Este fenômeno é comum durante os meses de verão no oeste da América do Norte e em outras áreas áridas, podendo causar incêndios florestais devastadores devido à vegetação seca e altas temperaturas.
Comumente, a definição diz que o raio seco ocorre com menos de 2,5 mm de precipitação, mas, de acordo com o meio científico, ainda falta uma quantificação rigorosa das quantidades de precipitação concomitantes com os incêndios florestais desencadeados por eles.
Um fenômeno perigoso
Um estudo publicado recentemente na revista Geophysical Research Letters, combinou dados de incêndios florestais, de raios e de precipitação para quantificar os valores de precipitação de ignição (combustão) em províncias no oeste dos Estados Unidos (EUA). Os autores identificaram que a precipitação média para todos os incêndios florestais provocados por raios secos nesta região é de 2,8 mm, mas varia de acordo com a vegetação e as características do fogo.
Segundo os resultados, o limite de precipitação diária amplamente utilizado de 2,5 mm para definir os raios secos não capturou totalmente o risco de incêndios no oeste dos EUA. Além disso, as quantidades de precipitação variaram de 1,7 a 7,7 mm, dependendo da província e se o incêndio foi detectado imediatamente ou se era um resquício.
As áreas florestais são particularmente vulneráveis a esses tipos de incêndios, pois os raios secos podem incendiar as folhas e galhos do chão que estão protegidos da chuva pelos galhos de cima. Mas eles também podem iniciar incêndios em locais remotos de difícil acesso.
Contudo, pesquisadores indicam que são necessárias algumas condições climáticas para gerar esses raios secos, as quais: temperaturas terrestres altas, secura na baixa troposfera (camada mais baixa da atmosfera) e umidade e instabilidade na média troposfera, fatores que também facilitam a queima da vegetação.
Suas consequências
A região oeste dos EUA é bem conhecida por seus raios secos, que são comuns durante os meses de verão. Nesse período, a vegetação costuma estar seca e facilmente inflamável. E mesmo quando as chuvas atingem o solo, a umidade é muito baixa para ter qualquer efeito sobre os incêndios florestais.
Os raios secos ocasionam centenas de incêndios florestais a cada ano, alguns dos quais perigosamente grandes. Inclusive, eles são a principal causa de alguns dos maiores incêndios florestais na história moderna da Califórnia. Em agosto de 2020, por exemplo, milhares deles provocaram mais de 650 incêndios florestais em todo esse Estado, queimando mais de 600 mil hectares, e muitas pessoas tiveram que ser evacuadas. Este foi o maior complexo de incêndios na história da Califórnia.
Segundo o artigo citado aqui, os raios secos iniciaram 28,5% dos incêndios florestais na Califórnia entre 1987 e 2020, que representaram quase 50% da área total queimada. E acredita-se que nos próximos anos o aquecimento global vai aumentar as temperaturas e reduzir as chuvas nesta região.
O Centro de Previsão de Tempestade (SPC) da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) emite previsões de raios secos para todo os EUA, já que são um importante evento climático. Deepti Singh, uma das coautoras do estudo, disse que a pesquisa pode "ajudar a entender a meteorologia dos raios secos nesta região, o que é crucial para informar a previsão, ajudando a restringir melhor o risco futuro de ignição de incêndios florestais na Califórnia".