Conheça uma estrutura resistente a terremotos e feita de bola de tênis
Você pode desconhecer, mas terremotos acontecem no mundo inteiro e também no Brasil, mas engenheiros descobriram um método barato para proteger casas desses abalos sísmicos feito com bolas de tênis.
Um dia recebi uma pergunta de um jornalista que organizava um jornalzinho feito por crianças: Por que no Brasil não tem terremoto? Respondi: Tem sim. Pois é, você sabia disso?
Quando trabalhei na coordenação do Centro de Monitoramento do Tempo e Clima do governo do Mato Grosso do Sul, Cemtec-MS, recebi uma enxurrada de perguntas sobre um abalo sísmico ocorrido no norte e Pantanal de MS. Comecei a trabalhar lá em 2008, então presenciei dois eventos, em 2009 e 2016, mas não foram os únicos.
Em 2009 o tremor atingiu 4,8 graus de magnitude na escala Richter. O tremor foi um dos 20 maiores já registrados no Brasil e o epicentro do abalo foi no meio do Pantanal, a 190 km de Corumbá, MS. Já em 2016 recebi uma ligação de Coxim, norte do Estado, onde houve tremor nas casas, paredes e afetou estruturas prediais. A concentração de tremores na região norte, oeste (região pantaneira) e sudoeste de Mato Grosso do Sul pode ser explicada por falhas geológicas.
Cidades brasileiras com tremores de terra em 2022
De acordo com o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (SIS/UnB) tremor de terra é um fenômeno natural e acontece sempre, apesar de não sentirmos quando é fraco. Veja algumas cidades, todas de Minas Gerais, com abalo sísmico neste mês: Carmo do Cajuru, São Gonçalo Do Pará, Divinópolis, Pompéu e Tiros. O Centro de Sismologia da USP já deixou alerta.
Os terremotos, abalos sísmicos, não podem ser previstos, mas os engenheiros podem se preparar para eles. No entanto, apesar do isolamento sísmico ser um método estabelecido mundialmente suas aplicações em países de baixa renda são muito limitadas devido ao seu alto custo.
Um isolador custa mais de 10 mil dólares. Agora, imagine usar bolas de tênis recicladas como isolador sísmico ! Foi a ideia de um grupo de pesquisadores com o Dr. Michalis Vassiliou como coordenadore e foi publicado no Frontiers in Built Environment.
Entenda o método
No protótipo, de baixo custo, os pesquisadores injetaram misturas semelhantes a cimento em centenas de bolas de tênis. Eram quatro bolas de tênis cheias ensanduichadas entre duas lajes de concreto, e descobriram que essa estrutura resistia a tremores, simulados de terremotos, enquanto suportava 8 kg/N de força por bola – em torno do dobro que os sistemas de isolamento experimentam em casas de um andar.
As bolas tinham que conter exatamente a quantidade certa da mistura (os autores usaram um saco de confeitar para preenchê-las) para amortecer as vibrações sem rachar durante os testes.
A equipe do Dr. Vassiliou baseou seu método em uma forma inicial de isolamento sísmico que movimenta um prédio até parar da mesma forma que um skatista volta ao seu estado de equilíbrio depois de uma manobra.
Esse método foi usado em pirâmides peruanas de 5.000 anos, mas hoje os construtores preferem sistemas de isolamento padronizados e caros.
Vassiliou lembra que os resultados são preliminares e acrescenta que os próximos passos é criar e testar um protótipo maior com centenas de bolas de tênis em um centro de pesquisa em Cuba propensa a terremotos – um exemplo de local onde tais sistemas poderiam viabilizar o isolamento em construções comuns.
O pesquisador recebeu financiamento para testar o sistema em campo e refinar a invenção.
Para que isso seja realmente implementado, é preciso desenvolvê-lo com engenheiros de países de baixa renda para que possamos observar se atende às suas necessidades.
No Observatório Sismológico, em Brasília, tem um pequeno museu e você vai encontrar uma frase, escrita na parede, do pensador Will Durantna: "Idealizada para ser um local de aprendizagem e também de reflexão sobre o poder da natureza e a necessidade de respeitá-la e saber conviver com seus caprichos".
A natureza tem seus caprichos, mas nós, com nossas ações, estamos invadindo a sua privacidade e os nossos engenheiros terão que estudar muito para produzir engenhocas que nos deixem mais seguros.
Até ! Saudações Meteorológicas!