“Recortar e colar” com o DNA: aprovado uso de medicamento baseado em técnica de edição genética
CASGEVY é o nome do medicamento revolucionário que ajuda a tratar a anemia falciforme e a talassemia beta, doenças genéticas que afetam os glóbulos vermelhos.
No mundo da medicina, especialmente no domínio das doenças genéticas, a inovação não conhece limites. Uma nova estrela está brilhando no horizonte da terapia genética e seu nome é CASGEVY.
Este novo medicamento se tornou o primeiro do gênero a ser aprovado para uso humano, primeiro no Reino Unido pela Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) e depois nos Estados Unidos pela Food Administration and Drug Administration (FDA), estabelecendo um dos grandes marcos médicos de 2023.
Devemos isso às “tesouras” moleculares
O desenvolvimento deste medicamento revolucionário não teria sido possível sem uma técnica conhecida como CRISPR/Cas9. Como seu nome pode parecer uma espécie de enigma ou chave difícil de entender, o mundo da ciência decidiu chamá-lo apropriadamente de técnica da “tesoura” molecular (você entenderá o porquê).
Essa tecnologia, que rendeu às cientistas Jennifer Doudna e Emmanuelle Charpentier o Prêmio Nobel de Química em 2020, permite modificar seções específicas do DNA onde o sistema CRISPR identifica o gene que precisa ser alterado enquanto a proteína Cas9 é responsável por cortá-lo. A capacidade das células de reparar o DNA após o corte possibilita a introdução de alterações específicas.
A estratégia CASGEVY
No caso deste novo medicamento, o “alvo do corte” está nos genes responsáveis pela formação dos glóbulos vermelhos, especificamente nos genes defeituosos da hemoglobina – proteína responsável pelo transporte de oxigênio – nas células estaminais da medula óssea.
Como explicado por organizações como a FDA e outras como a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, sigla em inglês), as doenças tratáveis com este medicamento são:
- Anemia falciforme, que afeta o formato das células sanguíneas. Em vez de serem flexíveis e redondas, as células assumem o formato de foice, o que pode causar bloqueios nos vasos sanguíneos, resultando em fortes dores e outros problemas de saúde.
- Betatalassemia, onde o corpo produz menos hemoglobina do que o normal ou apresenta anormalidades em sua estrutura. Em alguns casos há destruição de glóbulos vermelhos e ocorrem episódios de dor intensa em alguns tecidos por falta de oxigênio.
Em um comunicado de imprensa, as empresas que desenvolveram esse medicamento explicaram que “CASGEVY é o primeiro tratamento da sua classe que oferece o potencial de uma terapia transformadora única para pacientes elegíveis com anemia falciforme”.
O primeiro passo para o futuro dos tratamentos personalizados
Embora o tratamento comum para esse tipo de doença seja geralmente a transfusão de sangue ou o transplante, nem sempre é possível encontrar doadores compatíveis e, em muitos casos, os pacientes correm alguns riscos com o procedimento.
Nas palavras dos seus criadores, “essa aprovação significa que, pela primeira vez, aproximadamente 16.000 pacientes com doença falciforme serão elegíveis para uma terapia única e duradoura que oferece a possibilidade de uma cura funcional para a sua doença, eliminando graves crises de dor.” e as internações por elas causadas.”
À medida que avançamos em direção a um futuro onde a edição genética se torna parte integrante do nosso arsenal médico, esse novo medicamento se destaca como um pioneiro que poderá abrir caminho para uma era de tratamentos mais eficazes e personalizados.