Reduzir 20% do consumo de carne acabaria com metade do desmatamento

Pesquisa indica que substituir 20% da carne bovina por qualquer outra fonte de alimentos, como a carne microbiana, seria capaz de cortar o desmatamento mundial pela metade.

Reduzir 20% do consumo de carne acabaria com metade do desmatamento
Pesquisa indica que substituir 20% da carne bovina por alternativas, como proteína de fungos, seria capaz de cortar o desmatamento mundial pela metade.

Uma pesquisa publicada na Nature este mês aponta que, se formos capazes de suspender apenas 20% do consumo de carne bovina (o equivalente a cerca de 1 dia e meio por semana sem carne), seremos capazes de reduzir pela metade o desmatamento e as emissões de carbono nos próximos 30 anos.

A descoberta vem apenas um mês após publicação do IPCC que apontou que a humanidade está longe de conseguir limitar o aquecimento global a níveis aceitáveis.

A indústria da carne bovina é um dos principais impulsionadores do desmatamento em todo o mundo, e uma importante fonte de metano, um gás mais potente que o dióxido de carbono no quesito mudanças climáticas.

Antes desta publicação, já haviam outras pesquisas indicando que a substituição da carne bovina por uma alternativa de origem fúngica (ou seja, proteína gerada a partir de fungos) traria efeitos extremamente benéficos ao meio-ambiente.

Produzida em tanques de aço capazes de fermentar um fungo com glicose e outros nutrientes, essa alternativa já é comercializada no Reino Unido desde a década de 80 sob a marca Quorn e, hoje, está disponível em dezenas de países.

Como os efeitos da substituição da carne bovina foram calculados?

O fato é que esta é a primeira pesquisa a estimar com sucesso os efeitos ambientais da substituição parcial da carne bovina. Análises anteriores não levaram em conta diversos fatores importantes, como as mudanças no crescimento populacional, a demanda por alimentos e outras questões socioeconômicas.

Gráfico publicado no estudo mostra a redução de danos ambientais de acordo com a porcentagem de carne bovina substituída na alimentação per capita (imagem: Humpenöder, F. et al., Nature)

Primeiro, os cientistas levaram em consideração um cenário normal: o aumento global do consumo de carne bovina exigirá a expansão não só das áreas de pastagem, como também de terras agrícolas para produção de ração bovina, o que duplicará a taxa anual de desmatamento.

Depois, modelos matemáticos foram capazes de estimar que a substituição de 20% do consumo de carne bovina per capita reduziria as emissões de metano em 11% e o desmatamento pela metade, em comparação com o cenário normal. Substituições maiores levariam a efeitos ainda mais benéficos.

Há pontos negativos na substituição da carne bovina?

É claro que há muitas questões a se levantar a respeito das proteínas originadas de fungos. Sua produção pode exigir mais eletricidade do que a produção de carne bovina, e subprodutos da pecuária, como couro e leite, podem passar a ser produzidos de formas alternativas com maiores impactos ambientais.

Além disso, diferentes fontes de proteína podem gerar cenários diferentes, como as proteínas de origem vegetal ou até mesmo insetos. Ainda assim, tudo indica que os cenários que incluem redução do consumo de carne bovina sempre são benéficos para o meio-ambiente.

Por fim, substituir a carne bovina não resolverá, por si só, a crise climática. Ainda há muito trabalho a ser feito em diferentes áreas da sociedade, como a produção de energia e combustíveis fósseis. Ainda assim, seria um passo importante no controle dos danos que estamos causando ao planeta. A luta está apenas começando.