Revelando o mistério: por que os cães se sacodem tanto quando estão molhados?

Se você já notou seu cachorro se sacudindo rapidamente após tomar banho ou nadar, provavelmente já se perguntou: por que eles fazem isso? Neste artigo explicamos os fundamentos científicos.

cachorro molhado se sacudindo
Este comportamento aparentemente simples tem, na verdade, várias explicações, desde instintos evolutivos até respostas físicas à temperatura e ao desconforto.

Quem tem cachorro provavelmente já o viu se sacudindo incontrolavelmente após tomar banho, nadar ou até mesmo após se molhar na chuva. Embora possa parecer uma reação automática ao frio ou ao desconforto, há mais fatores que influenciam esse comportamento canino além do clima.

O comportamento, comumente conhecido como “sacudida do cachorro molhado”, é uma resposta fisiológica fascinante que desempenha várias funções importantes. Vamos explorar aqui a ciência por trás do motivo pelo qual os cães se sacodem tanto quando molhados e os mecanismos que intervém nisso.

Um reflexo natural: o que acontece quando um cachorro se sacode?

Em essência, sacudir o pêlo molhado é um reflexo instintivo que ajuda os cães a remover rapidamente o excesso de água da pelagem e da pele. No entanto, não se trata apenas de secar. Estudos demonstraram que os cães se sacodem vigorosamente por mais motivos do que apenas a necessidade de se secar. Esta sacudida é tão eficaz que pode remover mais de 70% da água do pêlo em apenas alguns segundos. Mas como isso funciona?

De acordo com pesquisadores de neurobiologia do Instituto Médico Howard Hughes da Escola de Medicina de Harvard, a via espinoparabraquial do mecanorreceptor de baixo limiar (C-LTMR) do tipo quente/frio é crucial para desencadear a resposta de "sacudida de cachorro molhado". Essa via detecta água e irritantes mecânicos nas costas do cão, desencadeando um comportamento de sacudida para eliminar a umidade e o desconforto.

Os C-LTMRs são neurônios sensoriais especializados que respondem a estímulos sutis, como umidade ou toque, e enviam sinais ao cérebro para iniciar uma agitação rápida e vigorosa. Esse reflexo ajuda os cães a remover com eficácia o excesso de água da pelagem e da pele, o que promove conforto e evita irritações na pele.
cachorro brincando na água
Esses receptores detectam água e outros irritantes mecânicos, sinalizando ao cérebro para iniciar a resposta de sacudida.

Os pesquisadores também destacaram que “as sacudidas do cachorro molhado é um comportamento evolutivamente conservado encontrado em mamíferos, projetado para remover água e outros irritantes de áreas das costas e pescoço, que são difíceis de alcançar através da autolimpeza ou lambida”.

Os C-LTMRs são especificamente adaptados a estímulos sutis, como a sensação de água ou toque, fazendo com que o corpo trema na tentativa de remover a umidade. Esse movimento rápido ajuda o cão a recuperar a sensação de conforto, removendo o excesso de água que pode causar desconforto, frio ou até irritação na pele.

Por que alguns cães se sacodem mais do que outros?

Nem todos os cães se sacodem com tanta frequência depois de se molharem. Fatores como raça, tipo de pelagem e tamanho do corpo podem influenciar a força com que um cão se sacode. Raças com pelagem mais espessa e densa, como os retrievers ou pastores, podem precisar se agitar mais para remover a água da pelagem.

Por outro lado, cães com pêlo mais curto e menos denso, como galgos ou dachshunds ('cão salsicha'), podem se sacudir menos intensamente, pois não absorvem tanta água.

Além disso, cães mais velhos ou com problemas nas articulações podem se sacudir mais lentamente ou com menos força do que cães mais jovens e saudáveis. Apesar dessas diferenças, o mecanismo subjacente da agitação do cão molhado permanece o mesmo: um reflexo rápido projetado para ajudar o cão a se secar, e manter-se aquecido e sentir-se confortável.

Referência da notícia:

New Atlas. "Wet dogs don't choose to 'shake it off' – it's in their genes". 2024.

Zhang, D. et al. C-LTMRs evoke wet dog shakes via the spinoparabrachial pathway. Science, v. 386, n. 6722, 2024.