Sapos de origem pré-histórica são descobertos no Pico da Neblina - o ponto mais alto do Brasil
As duas espécies de sapos são famílias totalmente novas para a ciência - que, estima-se, divergiram das demais há pelo menos 45 milhões de anos atrás, em tempos pré-históricos.
Cientistas brasileiros descobriram duas espécies de sapos de famílias totalmente novas para a ciência, que divergiram das demais há pelo menos 45 milhões de anos. As espécies foram descobertas no Pico da Neblina, o ponto mais alto do Brasil, que está localizado na porção norte da Amazônia.
A primeira espécie de sapo foi descoberta próxima à bandeira que marca o ponto mais alto do pico, em meio às pedras. A segunda espécie foi descoberta cerca de mil metros abaixo, em meio ao capim. Na época, os pesquisadores não tinham ideia de como classificá-los.
A identificação das novas famílias de sapos e sua conexão com a pré-história
Foram necessários seis anos de esforços para compreender melhor estas espécies (a expedição ocorreu em 2017). Foi só quando se utilizaram de sequenciamento genético que os cientistas desvendaram porque era tão difícil identificar as espécies: Eles pertencem a duas novas famílias, que foram batizadas de Neblinaphrynidae e Caligophrynidae.
As duas novas famílias são completamente diferentes das demais conhecidas, e estima-se que divergiram delas na pré-história, há pelo menos 45 milhões de anos. Tratam-se de linhagens tão antigas que todos seus possíveis parentes podem já ter sido extintos.
Uma das curiosidades a respeito dessas espécies é que elas foram encontradas em ambientes abertos, como campos de bromélias ou gramíneas, e não no interior da floresta densa da Amazônia. De acordo com o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues, os pesquisadores infelizmente não foram capazes de gravar seus cantos, mesmo retornando ao local mais tarde.
O nome do primeiro sapo, Neblinaphryne Mayeri, homenageia o general Sinclair James Mayer, responsável pelo contato entre projetos universitários e o Exército - que viabilizou a expedição ao Pico da Neblina em 2017. A segunda espécie, Caligophryne Doylei, foi uma homenagem ao escritor escocês Arthur Conan Doyle (1859-1830), autor do livro “O Mundo Perdido”.
Acredita-se que locais remotos, como o Pico da Neblina, possuem inúmeras espécies ainda desconhecidas. Novas expedições podem ser capazes de identificar e revelar outros integrantes desses grupos de sapos, mas elas infelizmente não acontecem com frequência. A última aconteceu em 2022, na vizinha Serra do Imeri - mas as espécies coletadas ainda estão sendo analisadas.
A região montanhosa da Amazônia é, ao mesmo tempo, um berçário e um museu. Nela é possível encontrar espécies novas, que acabaram de surgir, e ao mesmo tempo descobrir testemunhos da biodiversidade que existiu a milhões de anos atrás. O próprio pico da Neblina existe desde tempos remotos, mas foi descoberto apenas em 1950. Essa é a dualidade misteriosa e impressionante da Amazônia.
Referência da notícia:
FOUQUET, A. et al. Relicts in the mist: Two new frog families, genera and species highlight the role of Pantepui as a biodiversity museum throughout the Cenozoic. Molecular Phylogenetics and Evolution, 2023.