Secar a estratosfera é possível!? Esta é a nova forma proposta para combater as mudanças climáticas

Em um estudo publicado recentemente, os pesquisadores sugerem uma nova maneira de ajudar a combater as mudanças climáticas: secar a alta atmosfera. Veja mais informações aqui.

estratosfera
A estratosfera é a camada da atmosfera terrestre que fica acima da troposfera. Crédito: Max Dollner.

Muito tem se discutido sobre as ações necessárias para o enfrentamento das mudanças climáticas. Inclusive, esse é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: o 13º, intitulado “Ação contra a Mudança Global do Clima���, que propõe a adoção de medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e os seus impactos.

A estratosfera é a camada atmosférica que fica acima da troposfera, se estendendo aproximadamente entre 12 km e 50 km acima da superfície terrestre, e a temperatura aumenta com a altitude. É nessa camada que o ozônio está concentrado, por isso ela é aquecida.

Nesse sentido, um estudo publicado recentemente na revista Science Advances, desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas (CSL) da NOAA, sugere uma nova ideia para ajudar a combater a mudança do clima: secar a alta atmosfera (estratosfera) da Terra. Isso mesmo que você leu! Veja abaixo como seria isso…

“Desidratando” a estratosfera para benefícios climáticos

A ideia dos pesquisadores consiste em remover o vapor d’água da estratosfera, a camada na qual ele atua como um gás de efeito estufa (GEE) e é muito abundante, o que ajudaria a mitigar as mudanças climáticas.

Ao injetar partículas em áreas "onde é importante", a estratosfera “desidrataria” gradualmente e isso compensaria um setenta avos (1/70) do aquecimento causado pelas mudanças climáticas.

Os pesquisadores nomearam a ideia como “desidratação estratosférica intencional”. O mecanismo por trás desse conceito é a injeção direcionada de pequenas partículas conhecidas como núcleos de gelo na estratosfera, usando aeronaves de alta altitude. Essas partículas seriam o triiodeto de bismuto (BiI3), um material que também está sendo considerado para outra engenharia climática: o afinamento de nuvens cirrus.

Segundo Joshua Schwarz, autor principal do trabalho, se essas partículas pudessem ser semeadas na estratosfera, parte do vapor d’água se condensaria em gelo e cairia, e sairia mais radiação infravermelha para o espaço, removendo assim o excesso de vapor e secando (pelo menos parcialmente) a estratosfera. Segundo o estudo, a remoção de cerca de 3% do vapor d'água teria um efeito global.

Porém, essa ideia só funcionaria de forma plausível depois de superar várias barreiras técnicas; “neste momento não temos um plano ou tecnologia para fazer isso”, afirmou Schwarz. Até existem aeronaves capazes de chegar às altitudes da estratosfera, mas a ideia ainda precisa do desenvolvimento de tecnologias para injetar os núcleos na camada. E também mais pesquisas para identificar os riscos potenciais e efeitos não intencionais.

Ceticismo científico

Alguns cientistas são céticos. Eles acreditam que tal invenção por si só não tem sentido. O mecanismo teria que ser repetido regularmente para manter o efeito de resfriamento compensatório, e enquanto isso, o dióxido de carbono (CO2) está se acumulando na atmosfera permanecendo lá por um longo prazo.

Embora o dióxido de carbono e o metano sejam os gases de efeito estufa (GEE) mais importantes da mudança climática causada pelo homem, o vapor d’água continua sendo o GEE mais comum.

De fato, Schwarz diz que essa ideia só resfriaria uma pequena parte da atmosfera em comparação com o que o CO2 aquece. Esse método teria apenas um pequeno impacto em comparação com o impacto do CO2, já que esse gás continua sendo um grande problema para o aquecimento. Mas Schwarz deixa claro também que “esta ideia não é uma solução mágica… é apenas uma alternativa que fará algo na direção certa”.

Contudo, este continua sendo um tema controverso: “As questões éticas associadas à manipulação climática são tão grandes que algumas formas de geoengenharia são simplesmente inaceitáveis”, disse Kevin Trenberth, um cientista do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR).

Referência da notícia:

Schwarz, J. P. et al. Considering intentional stratospheric dehydration for climate benefits. Science Advances, v. 10, n. 9, 2024.