Secar a estratosfera é possível!? Esta é a nova forma proposta para combater as mudanças climáticas
Em um estudo publicado recentemente, os pesquisadores sugerem uma nova maneira de ajudar a combater as mudanças climáticas: secar a alta atmosfera. Veja mais informações aqui.
Muito tem se discutido sobre as ações necessárias para o enfrentamento das mudanças climáticas. Inclusive, esse é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: o 13º, intitulado “Ação contra a Mudança Global do Clima���, que propõe a adoção de medidas urgentes para combater as mudanças climáticas e os seus impactos.
Nesse sentido, um estudo publicado recentemente na revista Science Advances, desenvolvido por pesquisadores do Laboratório de Ciências Químicas (CSL) da NOAA, sugere uma nova ideia para ajudar a combater a mudança do clima: secar a alta atmosfera (estratosfera) da Terra. Isso mesmo que você leu! Veja abaixo como seria isso…
“Desidratando” a estratosfera para benefícios climáticos
A ideia dos pesquisadores consiste em remover o vapor d’água da estratosfera, a camada na qual ele atua como um gás de efeito estufa (GEE) e é muito abundante, o que ajudaria a mitigar as mudanças climáticas.
Os pesquisadores nomearam a ideia como “desidratação estratosférica intencional”. O mecanismo por trás desse conceito é a injeção direcionada de pequenas partículas conhecidas como núcleos de gelo na estratosfera, usando aeronaves de alta altitude. Essas partículas seriam o triiodeto de bismuto (BiI3), um material que também está sendo considerado para outra engenharia climática: o afinamento de nuvens cirrus.
Segundo Joshua Schwarz, autor principal do trabalho, se essas partículas pudessem ser semeadas na estratosfera, parte do vapor d’água se condensaria em gelo e cairia, e sairia mais radiação infravermelha para o espaço, removendo assim o excesso de vapor e secando (pelo menos parcialmente) a estratosfera. Segundo o estudo, a remoção de cerca de 3% do vapor d'água teria um efeito global.
Porém, essa ideia só funcionaria de forma plausível depois de superar várias barreiras técnicas; “neste momento não temos um plano ou tecnologia para fazer isso”, afirmou Schwarz. Até existem aeronaves capazes de chegar às altitudes da estratosfera, mas a ideia ainda precisa do desenvolvimento de tecnologias para injetar os núcleos na camada. E também mais pesquisas para identificar os riscos potenciais e efeitos não intencionais.
Ceticismo científico
Alguns cientistas são céticos. Eles acreditam que tal invenção por si só não tem sentido. O mecanismo teria que ser repetido regularmente para manter o efeito de resfriamento compensatório, e enquanto isso, o dióxido de carbono (CO2) está se acumulando na atmosfera permanecendo lá por um longo prazo.
De fato, Schwarz diz que essa ideia só resfriaria uma pequena parte da atmosfera em comparação com o que o CO2 aquece. Esse método teria apenas um pequeno impacto em comparação com o impacto do CO2, já que esse gás continua sendo um grande problema para o aquecimento. Mas Schwarz deixa claro também que “esta ideia não é uma solução mágica… é apenas uma alternativa que fará algo na direção certa”.
Contudo, este continua sendo um tema controverso: “As questões éticas associadas à manipulação climática são tão grandes que algumas formas de geoengenharia são simplesmente inaceitáveis”, disse Kevin Trenberth, um cientista do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas (NCAR).
Referência da notícia:
Schwarz, J. P. et al. Considering intentional stratospheric dehydration for climate benefits. Science Advances, v. 10, n. 9, 2024.