Substâncias presentes em protetores solares são encontradas no gelo do Ártico pela primeira vez
Estudo analisou amostras de gelo do Ártico e identificou a presença de componentes químicos que são normalmente encontrados em protetores solares e em outros produtos de higiene pessoal.
Os resultados da atividade humana já são visíveis em vários lugares do mundo, até em locais mais remotos. Desde partículas de microplásticos nos oceanos e nas nuvens, até bactérias resistentes na atmosfera…
Agora, em um estudo publicado em novembro de 2023 na revista Science of the Total Environment, pesquisadores descrevem que encontraram ingredientes químicos de protetores solares, sabonetes e shampoos no gelo do Ártico, alguns pela primeira vez.
A pesquisa no Ártico
Os pesquisadores coletaram 25 amostras de gelo, retiradas de cinco geleiras ao sul da vila de Ny-Ålesund, no arquipélago de Svalbard, que fica entre a costa da Noruega e o Ártico. Essas amostras foram coletadas durante a primavera ártica (de março a maio) de 2021, e em profundidades diferentes para ver como as concentrações de possíveis substâncias mudavam ao longo das estações do ano.
As análises detectaram vestígios de 13 ingredientes diferentes, normalmente encontrados em produtos de higiene pessoal, como protetores solares, shampoos e sabonetes. "Para alguns desses produtos químicos, esta é a primeira vez que sua presença é relatada na neve em Svalbard", explicaram os autores.
As substâncias encontradas
Com exceção de uma geleira, todas as demais continham concentrações maiores desses componentes durante o inverno do que nas demais estações. Além disso, os mais abundantes no topo das geleiras foram dois tipos de filtros ultravioletas (UV) presentes em protetores solares: o benzofenona-3 (BP3) e o octocrileno.
Próximo à vila Ny-Ålesund há uma estação de pesquisa ativa que poderia ser uma possível fonte de poluição, mas os cientistas acreditam que as substâncias químicas foram transportadas pelos ventos até chegar nessas remotas geleiras. Isso porque não há necessidade de uso de protetor solar em uma região como Svalbard, onde o Sol praticamente não aparece; por isso eles afirmam que foram transportados para lá.
Importância da descoberta e considerações futuras
O próximo passo agora é entender melhor como esses produtos químicos chegam até regiões remotas do Ártico. Mas já adiantando, os pesquisadores acreditam que as mudanças climáticas podem estar por trás disso.
"Este estudo destaca a necessidade de informações detalhadas sobre as propriedades físico-químicas dos Contaminantes de Preocupação Emergente (CPEs) do Ártico, considerando o seu impacto potencial nas águas doces e marinhas durante o degelo sob as mudanças climáticas", descreveram os autores.
Além disso, mais pesquisas são necessárias para saber se as substâncias encontradas estão abaixo ou acima dos níveis ambientalmente tóxicos. De qualquer forma, mesmo que elas estejam abaixo do nível de toxicidade, ainda podem ter um impacto significativo em corpos de águas doces e salgadas, como resultado direto do processo de derretimento da neve na área.
Referência da notícia:
D'Amico, M. et al. Chemicals of Emerging Arctic Concern in north-western Spitsbergen snow: Distribution and sources. Science of the Total Environment, v. 908, 2023.