Telescópio espacial James Webb descobre exoplaneta “olho” que pode ser habitável

O exoplaneta LHS 1140b foi descoberto em 2017 pelo Projeto MEarth. Tem aproximadamente 1,7 vezes o tamanho da Terra e 5,6 vezes sua massa. E inicialmente, pensava-se que ele era um "mini-Netuno" girando com uma mistura densa de água, metano e amônia.

A sua descoberta é particularmente significativa devido à sua localização na chamada “zona habitável” de sua estrela hospedeira, uma anã vermelha de baixa massa. Isso porque esta zona, muitas vezes referida como “Zona de Cachinhos Dourados”, é a região ao redor de uma estrela onde as temperaturas são adequadas para a existência de água líquida na superfície de um planeta.

Porém, conforme um estudo recente publicado na revista The Astrophysical Journal Letters, o telescópio espacial James Webb (JWST) da NASA descobriu que o planeta pode ter um oceano semelhante a uma íris cercado por um mar de gelo sólido — tornando-o um candidato a um mundo potencialmente habitável.

Localizado a aproximadamente 48 anos-luz de distância na constelação de Cetus, o LHS 1140b emerge então como um dos candidatos mais promissores para abrigar uma atmosfera e possivelmente um oceano de água líquida.

As descobertas do James Webb

Para estudar o exoplaneta, os cientistas usaram o Near-Infrared Imager e o Slitless Spectrograph do JWST, que permitem que o telescópio avalie o conteúdo do planeta conforme a luz de sua estrela passa pela sua atmosfera hipotética para chegar à Terra. Os dados foram coletados pelo Webb em dezembro de 2023.

Ao observar os comprimentos de onda da luz absorvida, os cientistas avistaram sinais de nitrogênio, um ingrediente-chave na atmosfera da Terra. Eles sugerem que o LHS 1140b possui uma atmosfera rica em nitrogênio, potencialmente semelhante à atmosfera da Terra.

Outras análises também revelaram que ele é menos denso do que o esperado para um planeta rochoso com uma composição semelhante à da Terra, sugerindo que 10% a 20% de sua massa pode ser composta de água. Esses resultados em conjunto descartam então um mundo rochoso ou um “mini-Netuno”, como era chamado.

Além disso, a possível presença de um oceano líquido sob a sua camada de gelo espesso poderia criar um ambiente semelhante aos oceanos subterrâneos das Luas Europa e Enceladus. Esses ambientes são considerados alguns dos locais mais promissores para a procura de vida extraterrestre.

"De todos os exoplanetas temperados atualmente conhecidos, o LHS-1140b pode muito bem ser nossa melhor aposta para um dia confirmar indiretamente a água líquida na superfície de um mundo alienígena além do nosso Sistema Solar. Este seria um marco importante na busca por exoplanetas potencialmente habitáveis", disse Charles Cadieux, autor principal do estudo e astrofísico da Universidade de Montreal.

E embora a maior parte do exoplaneta possa estar congelada, os pesquisadores notaram que o seu lado onde tem uma formação semelhante a uma "íris" pode atingir 20ºC em superfície — quente o suficiente para criar uma piscina habitável para a vida marinha no mundo congelado.

"A sugestão atual de uma atmosfera rica em nitrogênio precisa de confirmação com mais dados. Precisamos de pelo menos mais um ano de observações para confirmar que o LHS 1140b tem uma atmosfera, e provavelmente mais dois ou três para detectar dióxido de carbono", comentou René Doyon, físico da Universidade de Montreal e coautor do estudo.

Concluindo: o LHS 1140b apresenta características que o tornam um dos exoplanetas mais promissores na busca por mundos habitáveis. Sua localização na zona habitável, a possível presença de uma atmosfera rica em nitrogênio e a indicação de água em sua composição fazem dele um ponto para futuras observações.

Referência da notícia:

Cadieux, C. et al. Transmission Spectroscopy of the Habitable Zone Exoplanet LHS 1140 b with JWST/NIRISS. The Astrophysical Journal Letters, 970, 2024.