Temperatura do mar na Grande Barreira de Corais no início de 2024 foi a maior em 400 anos
A temperatura do oceano no início de 2024 na Grande Barreira de Corais da Austrália foi a maior já registrada em 400 anos, e os recifes podem não se recuperar totalmente.
Já vimos anteriormente várias notícias sobre o branqueamento em massa de recifes de corais, fenômeno causado devido ao aumento da temperatura da superfície do mar (TSM) e que retira os nutrientes e a cor desses seres, fazendo com que eles percam sua capacidade de recuperação.
Mas agora, um novo estudo publicado na revista Nature divulgou que a TSM na região da Grande Barreira de Corais na Austrália nos três primeiros meses de 2024 foi a maior já registrada em 407 anos, o que pode trazer consequências irreversíveis para os corais. E os autores atribuem isso à mudança climática induzida pelo homem.
Situação extremamente incomum
O branqueamento é quando os corais perdem a sua cor, ficando brancos por causa das altas temperaturas oceânicas. Eles expelem as algas coloridas que vivem dentro deles e, dependendo da gravidade e duração do evento de branqueamento, esses corais podem se recuperar ou morrer. Isso traz uma ameaça para os diversos ecossistemas marinhos.
Os pesquisadores determinaram as temperaturas oceânicas até 407 anos atrás (de 1618 a 2024) na Grande Barreira de Corais, perfurando e analisando quimicamente núcleos de esqueletos de corais em 22 locais na parte oriental do recife, e reconstruindo assim as séries de TSMs nesses locais.
Segundo o estudo, este evento de branqueamento na Grande Barreira de Corais no início de 2024 foi extremamente incomum. E foi o mais intenso e extenso já registrado para este sistema de recifes de 2.300 quilômetros. A TSM nos 3 primeiros meses de 2024 atingiu uma média de 1,73°C acima da média de 1618–1899, que era o recorde anterior.
Além disso, eles observaram que no final do século 19, após o início da industrialização, as TSMs na Grande Barreira começaram a aumentar constantemente, e que essa tendência de aquecimento não teria sido possível sem a ação humana. Nas últimas duas décadas dos registros, cinco dos seis anos mais quentes ocorreram desde 2016 e correspondem a grandes eventos de branqueamento.
Essa alta temperatura sem precedentes foi o principal impulsionador do branqueamento de corais na região, segundo os pesquisadores. E se as temperaturas continuarem subindo, os pesquisadores acreditam que é provável que a Grande Barreira de Corais se torne um lugar muito diferente daqui 20 a 30 anos.
Impactos não totalmente vistos ainda
Os pesquisadores alertam que os impactos deste evento de branqueamento no início do ano ainda não estão completamente capturados; ainda não se tem uma imagem completa da mortalidade dos corais na Grande Barreira. Além disso, cerca de 30% a 50% dos recifes da região ainda estão em risco.
"Os corais podem permanecer branqueados por algum tempo e ainda sobreviver, então não saberemos o impacto total até que passemos pela fase de recuperação. Mas se continuarmos a ver esse nível de aquecimento acelerado e branqueamento mais frequente, esse processo de recuperação vai se degradar muito rapidamente”, disse Neal Cantin, biólogo que ajudou a liderar as pesquisas.
Referência da notícia:
Henley, B. J. et al. Highest ocean heat in four centuries places Great Barrier Reef in danger. Nature, v. 632, 2024.