Tempestade Tropical Beryl deve atravessar os Estados Unidos e chegar ao sul do Canadá, após uma sequência de recordes
Ciclone tropical histórico chegou aos Estados Unidos nesta segunda-feira com força de Categoria 1, trazendo transtornos a cidades do Texas, e nos próximos dias se encaminha, pelo continente, para o Canadá.
Beryl recobrou suas forças novamente nas primeiras horas da segunda-feira (08 de julho), ao passar por águas muito quentes (30 a 31ºC) próximas da costa dos Estados Unidos. O sistema, que vinha atravessando o Golfo do México como uma tempestade tropical desde o dia 05, voltou ao status de furacão Categoria 1 pouco antes de atingir a costa do Texas.
Beryl tocou a costa norte-americana com ventos máximos sustentados de 130 km/h, e pressão central minima de 982 hPa. Chegou a Houston, capital do estado do Texas, trazendo consigo muita chuva e reportes de múltiplos tornados tocando o solo. Linhas de transmissão foram afetadas e milhões de habitantes iniciaram a tarde desta segunda-feira sem energia elétrica. Nas redes sociais, muitos perfis também relataram graves alagamentos.
Um furacão que fez história
Beryl iniciou seu ciclo de vida como uma onda de leste perto da costa da Africa no dia 25 de junho, e tornou-se a Depressão Tropical Beryl na tarde de 28 de junho. Alimentado pela energia do oceano bastante quente abaixo dele, evoluiu para Furacão Categoria 1 na noite de 29 de junho. No dia 02 de julho, atingiu sua máxima intensidade como Furacão Categoria 5. Causou transtornos e estragos nas Leeward Islands, Jamaica e na Península de Yucatan. Em 08 de julho, Beryl fez sua última entrada em terra, no sul do Texas, conforme alguns modelos já indicavam desde o início da semana passada.
Ao longo destes 13 dias, Beryl tornou-se verdadeiramente um ciclone histórico, exibindo marcas notáveis e batendo recordes:
- Furacão categoria 5 que se formou mais cedo no Atlântico (o recorde anterior era do furacão Emily, em 17 de julho de 2005), com os maiores ventos sustentados já registrados para um sistema formado antes do mês de agosto (270 km/h);
- Maior taxa de intensificação em 24h para uma tempestade nomeada em junho, superando o furacão Bertha (2008);
- Segundo furacão a atingir o Texas numa data tão adiantada na temporada, sendo superado apenas pelo Bonnie (1986);
- Maior tempo de existência como um major hurricane já registrado antes do mês de Agosto - Beryl sustentou-se acima da Categoria 3 por 4.5 dias, ultrapassando os 4.25 dias do Emily (2005).
Especula-se, a princípio, que a grande duração de Beryl tenha sido auxiliada pela inclinação do tubo de vórtice em baixos níveis para o lado esquerdo em relação ao cisalhamento vertical do vento (Lee et al., 2021) e pelas excepcionalmente altas temperaturas do oceano abaixo dele. Estes dois fatores podem ter sido a chave para manter o furacão tão forte e organizado, por tanto tempo.
O tweet abaixo, de um professor da Universidade de Albany, ilustra que o vento em baixos níveis no Beryl (pontos verdes) está à esquerda do fluxo de grande escala (seta preta), favorecendo sua intensificação e sua resistência ao aumento do cisalhamento do vento.
O que podemos dizer, com certeza, é que a ciência vai se debruçar sobre este histórico furacão, e nos próximos anos muitos artigos devem discutir seu comportamento e suas características únicas.
Qual o futuro de Beryl nos próximos dias?
Agora totalmente no continente, Beryl decaiu de furacão para tempestade tropical, e nos próximos dias irá se deslocar sobre a América do Norte na direção nordeste, atravessando vários estados dos Estados Unidos e chegando até o Canadá! Nessa caminhada, o modelo ECMWF indica que o sistema irá adquirir um núcleo frio, típico de latitudes mais altas. Sua circulação, já enfraquecida, pode vir a provocar rajadas de vento em torno de 65 km/h em localidades tão ao norte como Detroit (EUA) e Toronto (Canadá), nos dias 10 e 11 de julho.
Referência da notícia:
Lee, T., C. Wu, e R. Rios-Berrios, 2021: The Role of Low-Level Flow Direction on Tropical Cyclone Intensity Changes in a Moderate-Sheared Environment. J. Atmos. Sci., 78, 2859–2877, https://doi.org/10.1175/JAS-D-20-0360.1.