Verões poderão durar seis meses até final do século

Se continuarmos nos atuais níveis de emissões e sem esforços para mitigar as mudanças climáticas, até 2100 os verões serão mais duradouros, podendo se estender por até 6 meses no Hemisfério Norte, de acordo com os resultados encontrados num novo estudo.

Verão
Os verões no Hemisfério Norte serão mais longos e quentes até 2100, de acordo com novo estudo.

Quanto tempo durarão as estações do ano até 2100? Essa foi a pergunta que os pesquisadores Jiamin Wang, Yuping Guan e colaboradores se propuseram a responder em seu artigo publicado na Geophysical Research Letters em fevereiro desse ano!

Os pesquisadores usaram dados de temperatura diária observados de 1952 até 2011 para as latitudes médias do Hemisfério Norte, para detectar possíveis alterações nas estações do ano, e em seguida analisaram dados de temperatura projetados por modelos de mudanças climáticas para prever como as estações mudarão no futuro.

Os verãos estão ficando mais longos e mais quentes enquanto os invernos estão ficando mais curtos e mais quentes devido ao aquecimento global (Yuping Guan à AGU)

Para estabelecer o início e o fim das estações do ano, eles definiram limiares de temperaturas a partir do método estatístico de percentis, muito usado em estudos climatológicos. O início do verão era estabelecido quando a temperatura diária excedia o percentil de 75% do período estudado e o fim ocorria quando as temperaturas ficavam abaixo desse percentil. Para o inverno foi definido o percentil de 25%. A primavera e o outono foram definidos como as temperaturas de transição do inverno para o verão e do verão para o inverno, respectivamente.

Distribuições espaciais das tendências lineares das durações e inícios das estações durante o período de 1952 a 2011. Uma tendência negativa (positiva) de início significa um adiantamento (atraso) da data de início. Adaptado de Wang et al (2021).

Com os dados observados os autores verificaram que, em média, o verão cresceu de 78 para 95 dias entre 1952 e 2011, enquanto o inverno encolheu de 76 para 73 dias. A primavera e o outono também encolheram, de 124 para 115 dias e de 87 para 82 dias, respectivamente. Isso quer dizer que a primavera e o verão passaram a começar mais cedo enquanto o outono e o inverno passaram a começar mais tarde. As regiões do Mediterrâneo e do Platô Tibetano foram as que registraram as maiores mudanças em seus ciclos sazonais.

De acordo com as projeções climáticas, se continuarmos sob o mesmo cenário de emissões de gases de efeito estufa e sem qualquer esforço para mitigar as mudanças climáticas (cenário chamado de “business-as-usual”), os pesquisadores preveem que até 2100 o verão durará quase 6 meses, o inverno durará menos que dois meses e a primavera e o outono irão encolher ainda mais!

Inícios e durações das quatro estações do ano em 1952, 2011, 2050 e 2100. Adaptado de Wang et al (2021).

Mudanças drásticas como essas nas estações do ano poderiam desencadear uma série de problemas na agricultura, saúde humana e no meio ambiente. Alguns estudos já têm mostrado que com as mudanças nas estações os pássaros estão alterando seus padrões de migração e as plantas estão crescendo e florindo em épocas diferentes. Essas alterações podem causar grandes distúrbios nas comunidades ecológicas.

A ocorrência de eventos climáticos extremos também aumentaria. Com verões mais longos e quentes haveria um aumento das ondas de calor e incêndios florestais. Invernos mais curtos poderão ser mais instáveis e marcados por ondas de frio severas, como a ocorrida nos Estados Unidos em fevereiro.

As alterações sazonais também terão grande impacto na agricultura, aumentando os riscos dos produtores. Além disso, verões mais longos e quentes propiciarão o avanço de doenças tropicais para latitudes mais a norte, como aquelas carregadas por mosquitos.