Apenas 13% do oceano se mantém intocado pelo homem
O impacto das atividades humanas nos ecossistemas marinhos aumenta a cada dia. Um novo estudo mostra que apenas 13% do oceano está livre de influências do homem.
O homem depende do oceano para sua subsistência. Estima-se que mais de 2,8 bilhões de pessoas tenham peixes e frutos-do-mar como fonte essencial de proteína em suas dietas. Atividades humanas, como pesca, navegação e descarte de resíduo, impactam diretamente os ecossistemas marinhos. Segundo um artigo publicado na revista científica "Current Biology", apenas uma área de 55 milhões de km² (~13%) do oceano global, de um total de 500 milhões de km², pode ser considerada livre de influência humana.
Para o mapeamento dessas áreas, os cientistas utilizaram informações de 19 fatores associados às atividades humanas que impactam os oceano, como pesca, descarte de lixo, poluição marinha e navegação. Também foram considerados fatores relacionados às mudanças climáticas, como acidificação dos oceanos, aumento do nível do mar e aumento da temperatura de superfície. Os resultados desse estudo mostraram que quase não existe mais áreas marinhas intocadas na zona costeira. A maioria das áreas marinhas não impactadas pelo homem está concentrada ao redor dos polos ou próximas a ilhas remotas no Pacífico.
Os impactos do homem nos ecossistemas marinhos estão se tornando mais intensos e abrangentes a cada ano. Atualmente a pesca é uma das atividades humanas que mais destroem recursos naturais. A pesca industrial já atua em 55% da área oceânica, o que equivale a cerca de 4 vezes a área usada para agricultura em terra. Além disso, áreas antes remotas, como no Ártico, que ficavam isoladas pela cobertura de gelo, agora estão acessíveis à pesca e navegação devido ao derretimento causado pelas mudanças climáticas.
Por que áreas marinhas intocadas são importantes?
Infelizmente estas áreas oceânicas remotas são negligenciadas por programas e acordos de conservação globais por parecerem "inatingíveis", porém é fundamental proteger o pouco que nos resta. Áreas intocadas no oceano são abrigo de inúmeras espécies, e muitas vezes são o único lugar onde predadores de grande porte são encontrados em abundância. Estes predadores, como tubarões e atum, dependem dessas áreas para a perpetuação de suas espécies, já que sua reprodução lenta os tornam suscetíveis à atividade pesqueira intensa.
Mesmo reservas marinhas bem geridas e restritas não são capazes de sustentar o mesmo nível de biodiversidade das áreas intocadas. Muitas vezes essas reservas não são suficientemente grandes ou as atividades humanam ao entorno acabam influenciando a vida marinha na reserva. De acordo com o mapeamento descrito acima, somente 4,9% das áreas marinhas intocadas estão dentro de áreas de proteção marinhas.
Há também evidencias que áreas marinhas intocadas são mais resilientes ao aumento de temperatura e braqueamento de coral. Do ponto de vista científico, essas áreas contribuem para um melhor entendimento do funcionamento de sistemas marinhos saudáveis, e por tanto, fornecem informações importantes para o desenvolvimento de métodos de restaurações de ecossistemas marinhos já degradados.