Existem tsunamis no Brasil?
Na semana passada um tsunami atingiu a Indonésia, causando muita destruição e perda de vidas. Esses fenômenos podem ser devastadores e são mais frequentes em certas localidades. Mas será que é possível acontecer um tsunami no Brasil?
Os tsunamis são, em sua maioria, gerados por terremotos no fundo do oceano. Dessa forma, regiões oceânicas que possuem encontro de placas tectônicas são mais propícias ao desenvolvimento dessas ondas. O Círculo de Fogo do Pacífico é uma das regiões do planeta mais ativas geologicamente, e por isso, a maior parte dos tsunamis são gerados lá. Isso faz com que países como Indonésia, Sumatra e Japão tenham uma maior ocorrência desse fenômeno.
O contexto geológico do Brasil não é propício para a formação de tsunamis. Nosso país está localizado no interior de uma placa tectônica bem antiga, afastado dos movimentos nas bordas, onde se originam os tremores mais fortes. Isso reduz muito as chances de tsunamis intensos em nosso litoral. O Oceano Atlântico possui tremores menos intensos que o Índico e Pacífico, já que nossa placa tectônica see move em uma velocidade cerca de 4 vezes menor.
Além disso, é importante saber que não são todos os abalos sísmicos que tem o potencial de gerar tsunamis. Os chamados megatsunamis, que causam os maiores estragos e mortalidade, são gerados por abalos sísmicos superiores a 7.0 na escala Richter - escala que mede a energia liberada por tremores de terra. Dessa forma, mesmo havendo registros de abalos sísmicos na costa brasileira, estes são moderados e raramente ultrapassam magnitude 6. Isso significa que, o mecanismo sísmico responsável por tsunamis devastadores, como o da Indonésia em 2004 e do Japão em 2011, não são encontrados por aqui.
Registros históricos
Através dos registros históricos desde do descobrimento, especialistas tentam avaliar alguns supostos casos de tsunami em nossa costa. Existem pelo menos 5 casos conhecidos de ondas grandes no Brasil. No entanto, apenas dois desses foram comprovadamente causadas por terremotos, segundo o artigo do Prof. Dr. José Alberto Viva Veloso (veja na revista USP): Cananeia (SP) em 1789 e Baía de Todos os Santos (BA) em 1919, com tremores de 4,5 e 4,1 de magnitude, respectivamente.
Muitos casos de ressaca no mar, causadas por ventos intensos associados a ciclones extratropicais, são confundidos com tsunamis. Nesses casos, o termo tsunami meteorológico pode ser usado. Documentos históricos mostram que a vila de São Vicente (SP) foi destruída por ondas "gigantes" em 1541. Em cartas à coroa portuguesa, Frei Gaspar Madre de Deus conta que ondas de 8 metros de altura avançaram terra adentro por cerca de 150 metros, destruindo casas e outras construções. Porém, como não há informações sobre tremores nas cartas, acredita-se que essas ondas foram causadas por condições do tempo, uma vez que a ocorrência de ressacas por ciclones é muito comum na região.
Efeito remoto dos megatsunamis
Ocasionalmente, tsunamis gerados por tremores em outros lugares do mundo podem chegar até aqui. No entanto, estas ondas alcançam o nosso litoral já fracas e as vezes são imperceptíveis. Estudos registraram oscilações do mar de 20 a 120 cm na costa de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina cerca de 20-22 horas após o terremoto que gerou o tsunami na Indonésia em dezembro de 2004.