Manguezal: nosso aliado contra o Aquecimento Global
Os manguezais e marismas são capazes de estocar mais que o dobro de carbono do que florestas tropicais como a Amazônia. Esses ecossistemas são importante reguladores do clima e, consequentemente, nossos aliados no controle do aquecimento global.
As florestas tropicais, como a Amazônica, não são o único ecossistema fundamental para a regulação do clima da Terra. Um estudo publicado na revista Biology Letters (2018) mostrou que os manguezais e marismas são capazes de estocar mais que o dobro de carbono do que as florestas tropicais de terra firme, como a Floresta Amazônica, e até 10 vezes mais que as florestas de savana, como o Cerrado, sendo importantes aliados no controle do aquecimento global.
Sarah Charlier-Sarubo, oceanógrafa pesquisadora do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná, explica que o diferencial do manguezal no processo de estocagem de carbono está abaixo do solo. "O processo de sequestro de carbono por área de florestas de mangue é da mesma ordem de grandeza do observado em outras florestas tropicais úmidas e essa similaridade se mantém quando consideramos o carbono contido na biomassa acima do solo. Porém, quando é considerado o estoque total de carbono no sistema, incluindo a biomassa subterrânea e estoque no solo, o carbono contido em manguezais tropicais por unidade de área é significativamente maior que o observado em quaisquer florestas terrestres".
Esse e outros trabalhos recentes adicionam a este ecossistema, muitas vezes menosprezado, mais um importante "serviço ecossistêmico": o de regulador do clima. Serviços ecossistêmicos são benefícios econômicos, sociais e ambientais fornecidos pelo meio ambiente e utilizados pela sociedade para produção e suporte do seu bem-estar.
O manguezal é uma floresta ou bosque de mangue, nome dado as árvores típicas deste ecossistema. São típicos de águas salobras, nas regiões de encontro entre mar e rio. Esse ecossistema complexo é importantíssimos para o ciclo reprodutivo de inúmeras espécies marinhas e fluviais. Alguns estudos mostram que mais de 90% dos recursos pesqueiros passam algum estágio da vida nos manguezais.
Outro serviço ecossistêmico dos manguezais é a manutenção da qualidade da água. Suas espécies vegetais possuem grande capacidade de filtração e são capazes de reter sedimentos, minerais e contaminantes. Além disso, a complexa rede de raízes do mangue atua na redução da energia das ondas, atenuando o efeito erosivo e protegendo a comunidade costeira de tempestades e tsunami. Para Charlier-Sarubo, o papel do manguezal na regulação do clima é o serviço ecossistêmico menos estudado e explorado. Desde 2010 a iniciativa Carbono Azul (ONU) recomenda a proteção imediata e urgente de no mínimo 80% das áreas de gramas marinhas, manguezais e marismas com o objetivo de mitigar as mudanças climáticas.
No Brasil as maiores ameaças para a conservação das áreas de manguezal são a conversão de terras para a ocupação e construção de obras de infraestrutura sem o planejamento necessário, atividade portuárias, produção de sal, cultivo de camarões (carcinicultura) e poluição urbana e industrial. "Outras regiões do mundo enfrentam os mesmos desafios que nós, dependendo das peculiaridades de cada área. Poucos são os países que estão conseguindo manter ou aumentar suas áreas de manguezais", adiciona Charlier-Sarubo.