O aquecimento dos oceanos está deixando as ondas mais fortes
Um estudo inédito mostra evidências dos efeitos do aquecimento global nas ondas de superfície do oceano. A energia das ondas está aumentando e isso precisa ser levado em conta nas análises de impacto das mudanças climáticas nas zonas costeiras.
Um estudo publicado neste mês na Nature Communications, mostra de forma inédita que a energia das ondas está aumentando associada ao aquecimento da superfície oceano. Muitas variáveis climáticas, como nível médio do mar, temperatura do ar e concentração de gelo marinho nos polos tem sido usadas para o monitoramento dos efeitos do aquecimento global. Apesar disso, até o momento, ainda faltava uma análise global que ligasse de forma decisiva as tendências observadas nas ondas com as mudanças climáticas.
Nesse caso, estamos falando de ondas geradas pelo vento - tecnicamente chamadas de ondas de gravidade geradas pelo vento. São essas as ondas que vemos quebrar na praia. Elas são geradas em grandes áreas em alto-mar, por sistemas atmosféricos com ventos fortes e persistentes próximos a superfície. As ondas geradas pelo vento se propagam pela superfície do oceano até chegar na costa, e "quebram" nas praias pela redução da profundidade. Dessa forma, a distribuição e intensidade das ondas influenciam diretamente as áreas costeira, moldando o formato da linha de costa e ditando locais mais propícios para construções à beira-mar e oceânicas, como portos e plataformas de petróleo.
O estudo, liderado pelo pesquisador Borja G. Reguero do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade da Califórnia (EUA), analisou a energia das ondas ao invés de outros parâmetros normalmente usados, como altura e direção de onda. A energia de onda representa a energia transferida pela interação ar-mar que é usada no movimento da onda. Os resultados, obtidos para o período de 1948 a 2017, mostraram que existe uma relação entre o aumento da temperatura de superfície do mar nas últimas décadas e o aumento da energia das ondas em todo o globo, e também em cada bacia oceânica separadamente.
Segundo os autores, esta é a primeira vez que foi identificado um sinal do aquecimento global nas características das ondas do ponto de vista global. Nas últimas décadas alguns estudos mostraram que ondas extremas, mais altas, estão se tornando mais frequentes, porém estes trabalhos tinham abrangência apenas regional o que limitava conclusões do ponto de vista climático.
As descobertas de Reguero e seus colaboradores enfatizam a importância de se incluir as ondas como um indicador de mudanças climáticas e contabilizá-las nos efeitos do aquecimento global. Alguns modelos climáticos ainda não consideram ondas de superfície em suas simulações, como uma forma de redução do custo computacional. No entanto, a análise de risco nas zonas costeiras feita considerando apenas aumento do nível do mar, negligenciando as mudanças nas ondas, subestima as consequências das mudanças climáticas e, consequentemente, proverá soluções insuficientes para os problemas futuros.