O paradoxo da água
A água é essencial para a vida, mas a relação do homem com esse recurso é complexa. Se mantivermos as políticas de gestão atuais, a água que temos será sempre insuficiente e continuaremos vivendo a crise da água no mundo.
A água é essencial para a vida. No entanto, a relação do homem com esse recurso é complexa, o que motivou Dr. Edward B. Barbier, professor de economia da Universidade do Estado de Colorado (EUA), a investigar a relação histórica do homem com a água e as políticas mundiais relacionadas a esse recurso tão precioso. Os resultados foram publicados no livro "O Paradoxo da Água" [Water Paradox, Edward B. Barbier, Yale University Press (2019)], no qual o autor mostra evidências dos efeitos da crise em vários países e discute soluções políticas e de gestão necessárias para superá-la.
Por que esse assunto foi definido como um paradoxo? O paradoxo é uma figura de pensamento baseada na contradição. 70% da superfície do planeta é coberta por água, mas apenas 1% desse enorme reservatório é próprio para o consumo humano. Também, ao dar o nome ao livro de "paradoxo da água" Barbier fez um provocação pertinente: por que continuamos a usar a água doce como se fosse um recurso inesgotável se a cada dia sentimos o aumento de sua escassez?
A humanidade vive uma crise da água totalmente previsível. A cada ano, a diminuição do volume de água doce afeta mais que um terço da população mundial. Segundo a Water.org, 1 em 9 pessoas no mundo não tem acesso a água segura para o consumo, sendo mulheres e crianças os grupos mais afetados. Crianças são mais susceptíveis a doenças transmitidas na água imprópria para o consumo e mulheres são as responsáveis por sair a procura de água potável para suas famílias, carregando baldes turante todo o dia. O números são impressionantes: estima-se que a cada 2 minutos uma criança morre devido ao consumo de água não-potável, e por dia, no mundo, mulheres e meninas gastam 266 milhões de horas andando a procura de água ou carregando baldes e jarros.
Se não enxergamos a necessidade de mudanças urgentes, não é por falta de exemplos passados. Muitos impérios da antiguidade com base agrícola, como Suméria na Mesopotâmia, ascenderam devido ao controle de recursos hídricos. No entanto, o desperdício os levou a uma maior vulnerabilidade à degradação ambiental e ataques externos. A crise da água afeta diretamente o meio ambiente e agricultura, agravando crises sociais e econômicas.
Barbier pede o fim das políticas e mercados que desvalorizam a água e permitem que ela seja usada como se fosse abundante, inesgotável. Ele comenta que as inovações e progresso normalmente são focadas na expansão, e não na redução do consumo. Assim como Barbier, o Conselho Mundial da Água afirma que os motivos que sustentam a crise da água no mundo são muito mais associados a uma falha de gerenciamento do que à escassez. É necessário que cada um faça sua parte na redução do consumo e cobre dos orgão públicos um melhor gerenciamento e valorização desse recurso.