Ar polar traz potencial onda de frio em novembro! O que está acontecendo?
Uma forte massa de ar polar traz potencial para muito frio, com risco para ocorrência de geadas na Região Sul e temperaturas muito baixas no Centro-Oeste e no Sudeste no início de novembro. O que está influenciando esse padrão atípico?
A primavera deste ano vem sendo caracterizada por muita chuva no centro-sul do Brasil, principalmente na Região Sul e nos estados do Mato Grosso do Sul e de São Paulo, o que resultou no aumento considerável das afluências dos rios na bacia do Baixo Paraná e do Iguaçu e, consequentemente, do aumento expressivo da vazão das Cataratas do Iguaçu.
Vários fatores climático vem contribuindo para este padrão mais úmido: um contraste térmico nas águas do Atlântico Sul próximo do Uruguai e do Rio Grande do Sul, que contribui para a formação de ciclones; o Dipolo do Índico negativo (IDO), que acaba por favorecer o posicionamento de baixas pressões e cavados entre as regiões Sul e Sudeste e a Oscilação Antártica (AAO), oscilando próximo da neutralidade com valor político, que por sua vez favorece a organização da umidade mais próximo do Sudeste.
No entanto, a combinação da AAO com a Madden-Julian (MJO) são os principais fatores que possibilitam a incursão da massa de ar polar, fora de época, pelo centro-sul do país.
Oscilação Antártica e a Oscilação de Madden-Julian
A AAO é o principal fator que proporciona um evento tão forte para esta época do ano. Com sua intensa tendência negativa, que representa fisicamente o enfraquecimento da rotação do Vórtice Polar e o deslocamento das frente fria e massas de ar polar mais para norte, mais longe da Antártica e mais próximo da América do Sul.
Caso contrário, com a AAO com tendência positiva, o Vórtice Polar rotaciona mais forte e o cinturão de baixas pressões se aproxima mais do continente antártico, analogamente, com um efeito semelhante ao ralo de uma pia.
Já a MJO contribui para facilitar o avanço da frente fria até a altura do Nordeste e, consequentemente, para o espalhamento do ar frio até o Norte do país. Isso acontece pelo fato de a oscilação atuar na fase 7, que nesta época mostra um sinal de mais neutralidade no continente, mas que pode-se notar uma condição ligeiramente mais seca no Sul e no Sudeste e mais favorável à umidade na porção costeira entre o Sudeste e o Nordeste.
Tendência do modelo e o potencial de geada
Realmente será um evento intenso para a época do ano, tendo em vista os fatores climáticos influentes apresentados acima, no entanto, é necessário ficar claro, que ainda se trata de uma tendência e os modelos vêm errando a intensidade das quedas de temperatura, mostrando temperaturas mais baixas que o registrado. Algo normal de se observar durante a primavera, ainda mais se compararmos o cenário previsto superior a 5 dias. Assim, é preciso ter atenção e acompanhar a mudança dos modelos.
Na visão atual, o nosso modelo de confiança, o ECMWF, traz um cenário de forte queda das temperaturas a partir do dia 31, com ar polar avançando e chegando ao oeste da Região Norte na madrugada e início da manhã do dia 01. As mínimas podem variar de 16°C a 18°C entre o Centro-Oeste e o Norte, 2°C a 8°C no Rio Grande do Sul, de 0°C a 16°C em Santa Catarina, de 8°C a 16°C no Paraná, de 12°C a 18°C em São Paulo até o sul de Minas Gerais e o Triângulo Mineiro.
Com o avanço do ar polar no dia seguinte, o frio se espalha mais pelo Brasil Central. No entanto, o destaque fica para a Região Sul e o Sudeste, onde recordes de temperatura podem ser registrados, não do ano, mas para o período da primavera, com valores negativos na Serra Catarinense e próximas de 0°C na Serra Gaúcha. Com este cenário, há risco de geada para todas as regiões do Rio Grande do Sul, para o Planalto e Serra de Santa Catarina e no sul do Paraná.
No Sudeste, a capital paulista pode registrar mínimas em torno dos 10°C e 13°C no norte de São Paulo, bem como na capital de Minas Gerais, Belo Horizonte. No Centro-Oeste, destaque para mínimas em torno dos 11°C em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul.
Vale ressaltar que trata-se de uma tendência e de que a intensidade do frio pode mudar ao longo dos próximos dias. Tendo em vista, o erro dos modelos em superestimar o frio, espera-se que as mínimas de fato sejam mais elevadas. Seguimos acompanhando.