Atenção Região Sul: semana deve terminar com mais um episódio de tempestades severas e muita chuva

Tempestades dão uma trégua até a quinta-feira, mas na sexta-feira e no fim de semana há potencial de eventos intensos na região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul.

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O sul do Brasil deve ser atingido por uma nova onda de tempestades severas a partir da madrugada de sexta-feira (06).

No início de dezembro, instabilidades provenientes da Argentina e do Uruguai avançaram rapidamente sobre a região Sul do Brasil, atingindo o Rio Grande do Sul ainda no domingo (01) e, em seguida, Santa Catarina e Paraná na segunda-feira (02). Esse evento foi marcado pela formação de um ciclone extratropical no oceano, cujo sistema frontal, composto por uma linha de tempestades severas, causou danos expressivos, incluindo alagamentos, quedas de árvores e interrupções no fornecimento de energia em diversas localidades.

Entre terça (03) e quinta-feira (05), enquanto esta frente fria avança em direção ao Sudeste, o tempo será predominantemente estável na maior parte da região Sul. Apesar disso, tempestades isoladas ainda podem ocorrer, especialmente nas regiões oeste e norte do Paraná, durante o período diurno.

No entanto, essa trégua será curta. O final da semana promete um novo episódio de tempo severo, com a formação de uma frente fria associada a um intenso transporte de umidade da Amazônia. Esse cenário aumenta o potencial para tempestades acompanhadas de elevados acumulados de chuva, que poderão gerar novos transtornos na região.

Transporte de umidade da Amazônia inicia quinta-feira e prepara o ambiente de tempestades

Ao longo da quinta-feira (05), cenário pré-frontal, tem início a atuação do Jato de Baixos Níveis da América do Sul: uma corrente de ar intensa e estreita que ocorre em baixos níveis da atmosfera (cerca de 1.5 km de altura) ao longo da Cordilheira dos Andes. Este corredor de ventos intensos desempenha um papel muito importante no transporte de umidade da bacia Amazônica para a região sul do continente, fornecendo o ingrediente principal para a convecção.

Além disso, o aquecimento promovido pelo Jato de Baixos Níveis, cria condições para um grande contraste térmico (diferença de temperatura) em relação à massa de ar mais frio que deve avançar ao longo da sexta-feira (06). O contraste térmico também é um fator-chave para intensificar as tempestades, gerando nuvens com correntes de vento vigorosas e, consequentemente formando granizo e raios.

Na imagem abaixo temos o campo de vento em 850 hPa (em cores) e a pressão na superfície (em linhas brancas), do modelo ECMWF para às 21h da quinta-feira (5). Podemos observar o núcleo mais intenso de vento percorrendo a encosta dos Andes em direção a uma baixa pressão na Argentina.

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Campo de vento em 850 hPa (cores) e pressão em superfície (linhas) previsto pelo ECMWF, quinta-feira (5) às 21h, evidenciando a atuação do jato de baixos níveis a leste dos Andes.


Antes da entrada da frente fria, porém, essa baixa pressão dará origem a uma linha de tempestades no noroeste gaúcho, que deve avançar em direção ao sul do estado - algo relativamente incomum - com potencial de destruição.

Temporais avançam durante a madrugada de sexta-feira

Enquanto o Jato de Baixos Níveis se intensifica ao longo da madrugada de sexta, a região de baixa pressão atmosférica na Argentina ganha força e começa a estender um cavado em direção ao sul do Rio Grande do Sul. Esse é o mecanismo que dispara a primeira série de tempestades que afeta a região Sul no final da semana, nas primeiras horas da madrugada de sexta-feira (06).

Um cavado uma área de baixa pressão, favorável à formação de nuvens, que se estende sobre uma região - sem formar aquela circulação 'fechada' característica de um ciclone.

O mapa de densidade de raios abaixo, previsto pelo ECMWF, mostra a 1h de sexta-feira (06), destaca a região inicial de maior atividade convectiva, no oeste e norte do Rio Grande do Sul.

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Previsão de densidade de raios do modelo ECMWF, sexta-feira (06), 1h, e linhas de pressão em superfície, mostrando a região inicial das tempestades no oeste do Rio Grande do Sul.

Ao longo da madrugada essa linha de temporais avança rapidamente em direção ao litoral do estado, alcançando Santa Maria (região central) às 2h, Região Metropolitana de Porto Alegre no amanhecer (6h), e o litoral às 12h. O mapa abaixo mostra a previsão de densidade de raios ao meio dia da sexta-feira (06).

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Previsão de densidade de raios do modelo ECMWF, sexta-feira (06), às 12h e linhas de pressão em superfície, mostrando o avanço do sistema em direção ao leste/sudeste do Rio Grande do Sul.

É esperado chuva intensa com granizo e fortes rajadas de vento. Este cenário, chamado de pré-frontal, ocorre enquanto um ciclone extratropical se desenvolve no oceano Atlântico. Ciclones são os sistemas de baixa pressão que 'carregam' as frentes frias - extratropical refere-se ao local de formação.

Formação de ciclone extratropical e avanço de frente fria

Ao longo da sexta-feira (06), então, uma nova formação de ciclone extratropical e frente fria devem causar ainda mais temporais - que se deslocam de sudoeste para nordeste, como habitual.

O mapa abaixo mostra a previsão do modelo ECMWF às 18h da sexta-feira (06), destacando a aceleração do vento em 850 hPa, com velocidade superior a 80 km/h na Bolívia (região onde o Jato de Baixos Níveis é definido), e a atuação do cavado, prestes a se tornar um ciclone, representado pelo alongamento das linhas de pressão da superfície em direção ao oceano.

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Previsão de vento em 850 hPa (baixos níveis, em cores) e de pressão (superície, linhas brancas) para às 18h de sexta-feira (06), pelo modelo ECMWF. O mapa evidencia a atuação do jato e do cavado.

No horário seguinte, às 21h da sexta-feira (06), já é possível observar a região de baixa pressão com uma circulação fechada no oceano, ao sul do Rio Grande do Sul. O centro de baixa pressão fechado indica a formação do ciclone extratropical, que se intensifica enquanto segue seu curso para sudeste, no oceano.

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Previsão de vento em 850 hPa (baixos níveis, em cores) e de pressão (linhas em branco) para às 21h de sexta-feira (06), pelo modelo ECMWF. O mapa evidencia a atuação do jato de baixos níveis e formação do ciclone no oceano.

Enquanto isso, ao longo do sábado (07), este ciclone organiza a convecção sobre o Rio Grande do Sul, com sua frente fria avançando em direção a Santa Catarina na forma de tempestades intensas. Em Santa Catarina e Paraná, as tempestades intensas ocorrem de forma mais isolada, onde, no geral, o sistema perde força.

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Densidade de raios prevista pelo modelo ECMWF para sábado (07), às 6h, representando a linha de tempestades da frente fria associada com o ciclone extratropical no oceano (linhas de pressão em branco).

Como indicado pela previsão do ECMWF, até o final do domingo (08) as áreas mais afetadas pelas chuvas devem ser a região oeste e noroeste do Rio Grande do Sul, com acumulados da ordem de 200mm. Volumes expressivos também estão previstos para o oeste de Santa Catarina. A precipitação observada no centro e Sudeste do país nesta imagem está relacionada à frente fria anterior, do início do mês (01).

As tempestades noturnas representam um perigo adicional, pois a maioria das pessoas está dormindo neste horário, o que dificulta a percepção de alagamentos súbitos, rajadas de vento e outros riscos associados. Por isso, é essencial que a população fique atenta aos alertas meteorológicos, orientações oficiais da Defesa Civil e planeje medidas de segurança antecipadamente.

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