Primavera 2020: o que esperar do início da estação das chuvas?
A primavera é a estação das transição da estação seca para a chuvosa e este ano estará sob influência do fenômeno La Niña! O que esperar do padrão de chuvas e de temperatura para o último trimestre de 2020? Confira a análise aqui.
A primavera astronômica tem início hoje, dia 22 de Setembro, às 10h 31min. No entanto, climatologicamente, a estação já começou no início do mês, quando as temperaturas mais elevadas começam a ser registradas, mesmo com a incursão de massas de ar polar.
A amplitude térmica, que também ocorre pela baixa umidade do mês, é uma característica bastante evidente na estação, podendo se estender pela primeira quinzena de Outubro. Após esse período é esperado que as chuvas comecem a se espalhar pelo Brasil Central, com maiores volumes ocorrendo no norte do Centro-Oeste, oeste da Região Norte e no oeste da Região Sul, uma vez que, para esta última, devido ao aquecimento mais intenso no centro-norte do país e à possibilidade ainda da incursão de massas de ar polar, o contraste térmico e o fluxo de umidade provindo da Amazônia contribuem para a ocorrência de chuvas torrenciais.
Nos meses de Novembro e Dezembro a estação chuvosa se encontra estabelecida e a formação de zonas de convergência passa a ser comum. Esse aumento da umidade contribui para a redução da amplitude térmica. Já no extremo sul do país, mesmo que não haja déficit hídrico, a concentração das chuvas na porção mais central deixa a região mais vulnerável para tal condição.
Agora que sabemos o padrão médio da primavera, antes de partir para o prognóstico e avaliação do modelo climático, precisamos entender o padrão dos fatores predominantes de longo prazo: os oceanos Índico, Atlântico e Pacífico
La Niña e o papel dos oceanos Índico e Atlântico
O resfriamento da região equatorial do Oceano Pacífico está presente e não é novidade para ninguém. O fenômeno La Niña já é uma realidade e já influencia parte do planeta, mas ainda não o Brasil. Para isso, as anomalias abaixo de -0,5°C devem se manter por 2 a 3 meses dependo da intensidade. Assim, por volta da segunda quinzena e final de Outubro o Pacífico Equatorial mais frio deve mostrar reflexos da sua influência, através de uma condição mais úmida no Centro-Norte do país. Isso se os fatores de curto e médio prazo como as oscilações Antártica (AAO) e de Madden-Julian (MJO) forem neutras ou favoráveis.~
Para a MJO temos uma outra condição favorável à propagação de seu pulso, a do Oceano Índico. Diferentemente do ano de 2019, quando a porção mais a oeste, próximo da África, ficou mais aquecida e do leste, próximo da Oceania, mais frio, proporcionando um Dipolo do Índico (IOD) extremamente positivo, que dificultou a propagação da MJO e sendo o grande responsável pela seca da Austrália, para este ano há um IOD ligeiramente negativo que não atrapalha a oscilação e a atuação de pulsos favoráveis às chuvas no Centro-Norte.
Em relação ao Oceano Atlântico, é mais um fator que não atrapalha as ocorrência das chuvas no Brasil. As águas mais aquecidas acabam por fornecer mais energia para os sistemas frontais e cavados que conseguirem avançar, com variação da amplitude de avanço determinada pela AAO, o que pode proporcionar mais chuva nas regiões litorâneas e também o fluxo de umidade provindo do noroeste do país, contribuindo para a formação de zonas de convergência, uma vez que, os sistemas tendem a se manter por mais tempo.
Cenário do modelo CFSv2
Analisar a tendência durante um período de transição para uma estação de transição é muito mais difícil, uma vez que os modelos tendem a oscilar muito de cenário dia a dia e até mesmo a cada rodada. Para isso, é muito importante ter em mente os fatores climáticos a fim de traçar uma condição média, na qual os cenários possam oscilar.
Assim, ao observar a condição média prevista para o trimestre Outubro-Novembro-Dezembro o modelo CFSv2 nos traz um distribuição de chuvas que, em primeiro momento, está coerente com as influências oceânicas. Chuvas mais concentradas no Centro-Norte do país, atingindo boa parte do Sudeste. No entanto, em relação à intensidade das anomalias se esperava mais positivas para o Centro-Norte e negativas na Região Sul.
Já para o campo de temperatura, o modelo acaba trazendo um cenário de temperaturas mais elevadas na porção central. Sob uma condição mais úmida é de se esperar temperaturas abaixo e próximas da média, com anomalias positivas no Centro-Norte do país, devido ao tempo mais seco predominante.