Calor acima do normal ameaça plantio de hortifruti: os impactos do clima na mesa e no bolso da família brasileira!

As altas temperaturas geradas pelo El Niño somadas às condições naturais do verão têm gerado impactos na produção de hortifruti. O preço pode subir com a menor oferta.

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Como as altas temperaturas têm afetado a produção e oferta de hortifruti no Brasil. Veja os impactos do El Niño e o que esperar nas próximas semanas. FOTO: ILUSTRAÇÃO

No processo de produção agrícola existem muitas variáveis que contribuem ou afetam o plantio e o desenvolvimento, sendo que algumas cultivares são mais delicadas às variações extremas do tempo e do clima. Por exemplo, as temperaturas extremamente elevadas, mesmo que comuns no verão, tem sido responsáveis por uma menor oferta de hortifruti, já que as leguminosas e outras mais são mais suscetíveis a perdas pelo calor.

O problema é que normalmente nesta época do ano, a demanda por hortifruti também aumenta, já que muitos preferem uma comida mais leve com saladas e verduras para enfrentar os dias mais quentes. E quando a oferta diminui e a procura aumenta, os preços explodem e muitas famílias brasileiras ficam sem condições de arcar com a alimentação saudável.

O calor intenso proveniente do fenômeno El Niño desde a primavera de 2023 tem sido um pesadelo para muitos agricultores, para os que produzem hortifruti principalmente. As plantas murcham rapidamente e demandam mais água para se desenvolverem.

O fenômeno El Niño começou a perder intensidade e caminha rumo a uma neutralidade climática, algo que deve acontecer entre os meses de março e abril, porém, mesmo que isso esteja próximo de acontecer, a atmosfera ainda está muito mais quente que o normal, e esse distúrbio vem também de um oceano aquecido.

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Neutralidade climática deve acontecer entre março e abril, e depois dará lugar ao La Niña que vai mudar o clima ainda no outono e inverno deste ano. FONTE: IRI/NOAA

A neutralidade vem no próximo período, mas as mudanças no clima vão acontecer de maneira gradativa, ou seja, mesmo que o El Niño vá embora e coincidentemente o verão também, as projeções climáticas mais recentes ainda apostam em continuidade do calor acima do normal, o que vai continuar afetando a produção de hortaliças no Brasil.

Março mais quente que o normal marca o fim do El Niño?

Março já começou com registro de altas temperaturas na maior parte do Brasil, o que mantém o alerta quanto à produção de hortifruti, em especial as hortaliças no cinturão verde em São Paulo. No Sul, a temperatura até caiu um pouco nesse início da semana após o avanço de uma frente fria dando espaço para a chegada de uma massa de ar frio, mas algo que não será duradouro e muito menos abrangente.

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Março começa com trégua do calor intenso em partes da região Sul, mas calor acima do normal ainda persiste na maior parte do Brasil. FONTE: ECMWF

Para esse período até 11 de março, o mapa mostra uma anomalia negativa de temperaturas no Rio Grande do Sul e no leste de Santa Catarina, algo que pode ser observado nas áreas em azul do mapa, o que não significa temperaturas negativas, mas apenas uma trégua do calor excessivo que continua espalhado pelos outros estados brasileiros como notamos nas áreas em rosa do mapa.

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O próximo período de 11 a 18 de março será marcado por uma onda de calor em partes do centro-sul do país. FONTE: ECMWF

Já no período de 11 a 18 de março, a tendência é que uma forte onda de calor se instale em partes do centro-sul do país, e isso pode gerar temperaturas acima do normal desde o norte do Rio Grande do Sul, passando por Santa Catarina, Paraná, interior de São Paulo, até chegar a Mato Grosso do Sul e sudoeste de Mato Grosso.

Além das áreas em laranja escuro do mapa que representam o maior perigo de calor extremo, nota-se que todo o país continuará com temperaturas acima do normal. É uma boa parcela de março já com temperaturas acima da média, mesmo com o El Niño indo embora, o que acende o alerta ainda mais para as irregularidades climáticas e aquecimento do planeta que tornam a produção agrícola cada vez mais desafiadora.

Como o calor afeta a produção de hortifruti

Segundo o pesquisador da Embrapa Hortaliças, Carlos Pacheco, o aumento das temperaturas tem vários efeitos negativos sobre o cultivo das hortaliças. Por exemplo, no caso da alface, o calor fora do normal pode gerar desordens fisiológicas, gerar um ciclo de vida diferente, isso sem falar os sinais visuais como folhas murchas e queimadas.

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Com distúrbio climático e calor acima do normal, agricultores precisam investir pesado em tecnologias e consultorias. FOTO: ILUSTRAÇÃO

No caso das brássicas (brócolis, couve-flor, etc), são espécies que se desenvolvem menos em temperaturas mais elevadas, ou seja, são as mais prejudicadas. Diferente das abóboras que se adaptaram melhor ao clima mais quente.

Pacheco enfatiza sobre os impactos das mudanças climáticas que já são sentidos hoje e tendem a piorar nos próximos anos, isso coloca em risco total a produção de muitas cultivares em nosso país e no mundo todo.

Cada cultivar tem seu padrão climático para um bom desenvolvimento e quando isso é alterado, o resultado é negativo. Na maioria das cultivares de alface, condições de altas temperaturas (acima de 30°C) durante a embebição das sementes pode levar a uma redução drástica do estande inicial. Em cenoura, temperaturas próximas de 35°C podem reduzir a germinação e o estabelecimento de plântulas no campo.