Chuvas continuam irregulares na Região Sul e fevereiro não se mostra um mês característico de El Niño
O padrão de chuvas mudou neste mês de janeiro, apresentando uma considerável redução das chuvas na Região Sul. Será que em fevereiro as chuvas vão voltar a se regularizar? Há risco de eventos extremos? Saiba aqui.
O mês de janeiro apresentou uma redução significativa das chuvas na Região Sul, dando uma alívio às condições extremas que foram observadas nos meses de outubro, novembro e, com menor intensidade, em dezembro.
Nos próximos dias, a previsão aponta para um padrão de tempo firme predominando em praticamente todo o Sul, com pancadas ocorrendo de forma muito isolada, mas não se descartando o potencial de tempestades.
Mas por que esse padrão se estabeleceu? Há o retorno das chuvas para toda a Região Sul? Ainda há chance de chuvas intensas e volumosas como foram observadas no último trimestre de 2023 sobre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina? Respondemos a seguir.
Fatores climáticos: El Niño, Oceano Atlântico e oscilações de Madden-Julian e Antártica
O fator climática que acaba sendo mais lembrado é o fenômeno El Niño, que ainda está presente, mas segue em desconfiguração em relação ao padrão clássico, com anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) mais intensas nas áreas à oeste (NINO 4, NINO 3) do que na sua porção central e leste (NINO 3.4, NINO 1+2), o que já é suficiente para que afete a distribuição das chuvas no Brasil, não ficando tão concentradas na Região Sul, principalmente entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
No entanto, o fenômeno El Niño não é o único fator climático que influencia o Brasil. O padrão de temperatura da superfície do Atlântico e as oscilações de Madden-Julian (MJO) e Antártica (AAO) influenciam muito o padrão climático no país, o Atlântico influenciando a qualidade das chuvas, se vão ser mais persistentes e volumosas ou mais irregulares, a MJO potencializando ou suprimindo a precipitação confirma as suas fases e, a AAO, nos trazendo uma ideia de se haverá mais sistemas passando pelo centro-sul do país.
O oceano Atlântico, pelo mapa de anomalia acima, vem se mostrando mais quente na sua porção norte e mais frio na altura das regiões Sul e Sudeste, não favorecendo muito a atuação de sistemas ou a vida útil destes no centro-sul do Brasil.
A MJO vem atuando em fases neutras, com previsão de fase 7 nas próximas semanas, contribuindo para chuvas somente no noroeste do Brasil, ou seja, no oeste da Região Norte.
Já a AAO vem oscilando pouco e mantendo uma condição próxima da neutralidade. Para que as chuvas se concentrem mais na Região Sul, o índice deve ficar mais negativo. Como estava atuando de forma positiva nas últimas semanas, os sistemas de precipitação passaram a atuar mais para norte entre o Sudeste e o Nordeste.
Como o comportamento desses fatores irá se manter ao longo das próximas semanas, não se esperam chuvas abrangentes e volumosas na Região Sul como as observadas nos meses de outubro, novembro e parte de dezembro.
Mas o que a previsão do modelo ECMWF está mostrando?
Previsão de precipitação do modelo ECMWF
Nos primeiros dias de fevereiro não há previsão de acumulados expressivos para o período. Até o dia o dia 08, as chuvas ocorrem de forma mais efetiva no norte e leste de Santa Catarina, no centro-leste e norte do Paraná, com volumes de no máximo 75 mm.
Analisando as anomalias de precipitação do ECMWF, o padrão para o período de 05 a 12 de fevereiro se mostra mais otimista de chuvas no Sul. Somando a informação de curto prazo de acumulado de precipitação, pode-se concluir que há a possibilidade de chuvas melhor distribuídas entre os dias 09 e 12.
No entanto, essa condição não se mostra uma mudança de padrão definitiva, uma vez que as anomalias previstas para o período de 12 a 19 de fevereiro mostram uma maior concentração de chuvas na metade norte da Região Sul e em parte das regiões Centro-Oeste e Sudeste, com uma intensidade maior sobre São Paulo, Mato Grosso do Sul e o Paraná, ou seja, a anomalia positiva sobre a Região Sul pode ser apenas um indicativo de maior probabilidade de precipitação e não de chuvas volumosas e abrangentes.
Em resumo, haverá um período mais otimista de precipitação a partir da segunda semana de fevereiro, mas não atingindo toda a Região Sul e com maior probabilidade de chuvas irregulares que podem ocorrer como pancadas de até forte intensidade e tempestades.