Com 47 mortes confirmadas por enchentes, Rio Grande do Sul continua sendo atingido por chuvas intensas e tempestades

A chuva intensa persiste no Rio Grande do Sul e mantém cidades embaixo d’água. Rios continuam com cota de transbordamento e caos segue instalado com previsão de novas chuvas.

inundaçao no RS
Inundação do Rio Taquari é de proporções históricas. Foto: REUTERS/Diego Vara

Desde o começo do mês de setembro o Rio Grande do Sul vive um caos completo com dezenas de cidades embaixo d’água e 47 vítimas fatais. Até o momento, já foram mais de 360 milímetros de chuva registrados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), um desvio de 120% acima da média na cidade mais atingida até o momento que é Serafina Corrêa, localizada no norte gaúcho.

Cidades como Cruz Alta, Ibirubá, São Luiz Gonzaga e Palmeira das Missões estão na lista das que mais registraram chuva no estado gaúcho nos últimos dias, os volumes variam de 282 e 352 milímetros provocados pelo último ciclone. Além das citadas acima, outros 87 municípios tiveram estado de calamidade reconhecido pelo governo do Rio Grande do Sul. Ao total são 92 cidades em estado crítico com mais de 25 mil pessoas desabrigadas e/ou desalojadas.

Com reconhecimento do governo gaúcho, as 92 cidades em estado de calamidade ficam aptas a solicitar recursos ao governo federal para prestar assistência à população, restabelecer serviços essenciais como fornecimento de água e energia, além de reconstrução de infraestrutura e moradias.

Segundo a Defesa Civil ainda tem cerca de 4.794 desabrigados, pessoas que necessitam de abrigo público, e em torno de 20.490 desalojados que são aquelas pessoas que estão em outras residências de parentes e amigos. Além das 47 vítimas fatais, 924 pessoas ficaram feridas com as últimas chuvas, um número que infelizmente pode aumentar com a previsão de mais um ciclone e outra frente fria.

O rastro de morte e destruição no Rio Grande do Sul vai ficar na memória de muitos por um longo tempo. Foram centenas de casas totalmente destruídas, escolas, cidades inteiras embaixo d’água, muitos animais mortos. Houve muito prejuízo e perdas imensuráveis em diversos setores do estado, como a agricultura que também tem sido vítima dos eventos extremos de precipitação.

Com as enchentes recentes foi estimado um prejuízo em torno de R$ 220 milhões na indústria avícola do Vale do Taquari. As perdas na produção de aves com as cheias dos rios foram contabilizadas a partir de um levantamento da Associação Gaúcha de Avicultura.

Temporais atingem o Rio Grande do Sul novamente

Após uma pequena trégua no final de semana, o Rio Grande do Sul voltou a ser atingido por chuvas intensas e temporais devido à chegada de novas instabilidades associadas a uma frente fria nesse início de semana. As últimas 24 horas foram tensas desta vez na metade sul do estado.

Entre ontem e à tarde desta terça-feira (12), o volume de chuva já chegou aos 77 milímetros em Caçapava do Sul, aos 75 milímetros em São Gabriel, aos 67 milímetros em Rio Grande e aos 58 milímetros em São Vicente do Sul, cidades que mais foram afetadas até o momento.

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Cidades como Passo Fundo ficaram embaixo d'água com a passagem do ciclone no Rio Grande do Sul. A previsão é de mais chuva nos próximos dias. Foto: PREFEITURA DE PASSO FUNDO/DIVULGAÇÃO.

Em Uruguaiana, na fronteira oeste gaúcha, o volume de chuva já passou dos 54 milímetros nessas últimas 24 horas. Além do volume expressivo, um forte temporal atingiu a cidade com ventos e queda de granizo, o que gerou caos e correria depois que um letreiro de um supermercado foi arrancado na Barra do Quaraí. As rajadas de vento chegaram aos 72km/h na cidade segundo o INMET.

Com a chuva mais intensa atingindo agora também a metade sul do Rio Grande do Sul após o caos gerado na metade norte com o primeiro ciclone, praticamente todo o estado está em alerta, visto que o nível dos rios já está bastante elevado, com cotas de inundação, e tem mais previsão de chuva entre hoje e amanhã com a formação de outro ciclone.

Aliás, bacias hidrográficas estão em situação de alerta, o que obrigou dezenas de pessoas a saírem de suas casas na fronteira oeste nesse começo de semana devido às enchentes. O governo federal emitiu um alerta de inundação do Rio Uruguai através do Serviço Geológico do Brasil. O Rio Uruguai é o que mais preocupa no momento já apresentando cota de inundação com nível seguindo em lenta elevação.

No final da tarde desta segunda-feira (11), a medição do rio chegou em nível crítico na cidade de São Borja, em que a altura da água já está em quase 11 metros, bem parecido com o que foi medido também em Alegrete.

Um ponto importante a se ressaltar é que no Rio Grande do Sul, os rios são mais rasos comparados a outras regiões do Brasil, o que torna o problema maior, pois a cota de transbordamento pode ser atingida mais facilmente. A elevação do nível dos rios acontece de forma rápida especialmente com eventos extremos de precipitação como esses.

Com previsão de mais chuva, o estado continua sob alerta de transtornos, prejuízos e mais tragédias. Nesta quarta-feira (13) um novo ciclone se forma e dá suporte a frente fria que já tem avançado pelo Rio Grande do Sul desde o começo da semana, ou seja, tem mais potencial de chuva e mais potencial para temporais com ventos de até 80km/h. Saiba mais detalhes da previsão do tempo a seguir.

Como fica o tempo no Sul do Brasil

Até o final desta terça-feira (12) os pluviômetros vão continuar registrando chuva em diversas cidades do Rio Grande do Sul. Aliás, os volumes ainda podem ser expressivos nessas próximas horas, mantendo o alto risco para inundações em cidades banhadas pelos rios já monitorados com cota de transbordamento.

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Por volta das 15h45 de hoje, radares registravam a chuva espalhada pelo Rio Grande do Sul com a atuação da nova frente fria.

O maior destaque vai para o tempo desta quarta-feira (13) com o deslocamento do centro de baixa pressão atmosférica que sai do interior do continente, atravessa a região Sul e para no oceano como um novo ciclone extratropical. O grande gerador das chuvas intensas e temporais será esse deslocamento do sistema sobre o Rio Grande do Sul ao longo do dia.

Tem riscos de temporais com ventos de até 80km/h, além de descargas elétricas e eventual queda de granizo em todo o estado, mas diferente dos últimos dois dias em que a chuva ficou mais concentrada no centro-sul gaúcho, amanhã as chuvas intensas voltam a castigar cidades mais ao norte do estado, cidades que inclusive já estão embaixo d’água.

A chuva mais intensa deve durar até o final da tarde no estado, quando o sistema frontal avançar em direção aos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Na noite de quarta e na manhã de quinta-feira (14) ainda pode chover no Rio Grande do Sul, mas de maneira fraca e com menores acumulados, o que será um pequeno alívio.

A trégua da chuva vem na tarde de quinta-feira com a chegada de uma massa de ar seco associada a uma área de alta pressão atmosférica que só vai embora na noite de domingo (17) quando uma nova área de baixa pressão atmosférica se formar no interior do continente, ou seja, para o início da próxima semana tem mais previsão de chuva no Rio Grande do Sul.