Com El Niño em aparente “férias”, o que podemos esperar do clima em fevereiro sobre o Brasil?
Com o El Niño perdendo força rapidamente, precisamos buscar outros possíveis moduladores do clima no Brasil! Quais são os possíveis candidatos e como eles influenciarão o clima no país em fevereiro?
O mês de fevereiro é o último do trimestre do verão meteorológico brasileiro - definido como o trimestre de dezembro, janeiro e fevereiro - ainda marcado por temperaturas altas e muitas chuvas em grande parte do Brasil, chuvas ainda provocadas pelo Sistema de Monções da América do Sul e a formação de Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), além da atuação de outros sistemas meteorológicos.
Em fevereiro já começamos a observar algumas mudanças do padrão meteorológico sobre o Brasil, principalmente no regime de chuvas! Climatologicamente fevereiro ainda é um mês bastante chuvoso em grande parte do país, porém, neste mês os maiores acumulados passam a se concentrar sobre a região Norte, devido principalmente ao posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que nessa época do ano já se encontra bem ao sul da linha do equador.
Sobre o Brasil Central e Sudeste os acumulados diminuem, mas ainda temos o registro de grandes acumulados de precipitação, associados ao corredor de umidade que se forma entre o Norte e Sudeste do Brasil e a possível formação de ZCAS. No Sul os maiores acumulados ocorrem entre os estados do Paraná e Santa Catarina, que também podem ser afetados pelo corredor de umidade e sistemas transientes. Já o Nordeste é a região que recebe o menor acumulado de chuvas no mês, com os volumes mais significativos ocorrendo sobre a faixa norte e interior da região, principalmente devido a ZCIT e também a combinação da ZCIT com as ZCAS.
Porém, como sabemos, esse regime de chuvas e temperaturas é o que esperamos para o mês, mas alguns padrões de teleconexões podem influenciar o clima fazendo com que haja desvios em relação a essas médias climatológicas (anomalias). Então vamos analisar quais padrões poderão influenciar o clima em fevereiro!
O que esperar do El Niño para o próximo mês?
Apesar de ainda estarmos oficialmente em uma fase positiva do El Niño-Oscilação Sul (ENOS) e ainda registrarmos anomalias positivas de TSM sobre o Pacífico Tropical, o El Niño está apresentando sinais de enfraquecimento e está caminhando para o seu fim, com perspectiva de retorno a fase neutra do ENOS em meados do mês de abril.
Além de mais fraco, o El Niño mudou seu padrão espacial ao longo das últimas semanas. Antes tínhamos as anomalias positivas de TSM mais intensas posicionadas mais a leste no Pacifico Tropical, o que configurava um El Niño Canônico, em outras palavras, um padrão de El Niño clássico. Agora nota-se que as regiões mais a leste do Pacífico não estão mais tão quentes e as anomalias positivas mais intensas estão mais para oeste. Essa mudança de “aparência” do El Niño altera a forma como o fenômeno influencia a circulação atmosférica global. Por isso deixamos de ter a resposta esperada de um El Niño clássico.
Devido a essas alterações espaciais e também de intensidade, o El Niño parece não estar mais modulando o clima sobre o Brasil, principalmente quando comparamos com os meses anteriores, quando o sinal do El Niño sobre o Brasil era bem evidente principalmente sobre o regime de chuvas: provocando um déficit de chuvas no Norte e excesso de chuvas no Sul.
Mas não é só isso, o El Niño não simplesmente decidiu tirar umas “férias” e parar de influenciar o clima. O fenômeno continua alterando o padrão climático global, porém existem outros grandes moduladores do clima também ativos que podem estar se sobrepondo aos efeitos do El Niño. No caso do Brasil, um grande modulador do clima tem sido o padrão de anomalias de TSM do Atlântico Sul, onde temos uma ampla região de anomalias de TSM na porção tropical, na altura do litoral do Nordeste e Sudeste, e anomalias negativas sobre a porção subtropical, próxima a costa da região Sul.
Quais padrões climáticos poderão influenciar o clima no Brasil?
Outro importante modulador do clima no Brasil, principalmente durante a estação chuvosa, é a Oscilação de Madden-Julian (OMJ), oscilação que, dependendo da fase em que se encontra, favorece ou desfavorece os acumulados de chuva sobre as regiões Norte e Nordeste. A previsão estendida do sinal da OMJ sobre a precipitação nos trópicos pelo modelo CFSv2 indica que a oscilação não deverá se propagar como o esperado nas próximas semanas, apresentando um sinal fraco nas chuvas sobre a América do Sul.
Na primeira semana de fevereiro a OMJ poderá favorecer as chuvas sobre o oeste da região Norte, porém nas semanas seguintes a oscilação parece não contribuir mais para as chuvas, inclusive podendo desfavorecer as chuvas no Centro Norte no meio do mês. Mais para o final de fevereiro a OMJ poderá favorecer ligeiramente as chuvas novamente sobre o Norte e Nordeste, mas o sinal ainda se mostra bem fraco.
Não podemos nos esquecer do Atlântico Sul que, como mencionado anteriormente, tem registrado um importante dipolo de anomalias próximo a costa do Brasil. Esse dipolo tem favorecido a estacionariedade de frentes frias mais a norte, além de favorecer a formação de sistemas de baixa pressão (ciclones) mais a norte também. Essa configuração pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a formação do corredor de umidade e das ZCAS sobre o Centro-Norte do Brasil na última semana, provocando grandes acumulados de chuvas nessa região.
Anomalias de chuva previstas para Fevereiro
As previsões do modelo do ECMWF para precipitação no mês de fevereiro indicam uma tendência interessante, com o predomínio de chuvas na média e acima da média durante o mês em grande parte do país. Porém, ao observarmos as previsões por semana, notamos uma mudança do padrão de chuvas ao longo do mês.
Nas duas primeiras semanas do mês, as chuvas mais volumosas se concentrarão mais na região Centro-Sul do Brasil, com o indicativo de acumulados acima da média nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Enquanto isso, a tendência é que a região Centro-Norte registre acumulados de chuva abaixo da média, principalmente no leste da região Norte e norte da região Nordeste.
A partir da semana do dia 19 de fevereiro, a tendência é que o padrão de chuvas mude. Na segunda metade do mês grande parte do país registrará acumulados de chuva próximos do normal, com exceção de uma pequena porção ao norte da região do Norte que continuará registrando chuvas abaixo da média e uma área mais extensa no Brasil Central que registrará chuvas acima da média, pegando também grande parte do Nordeste e partes do Sudeste.
Na última semana do mês, essa região de chuvas acima da média deverá se deslocar um pouco mais para o norte, ficando mais restrita sobre partes do Brasil Central e sobre a região Nordeste.
Anomalias de temperatura previstas para Fevereiro
Em relação às temperaturas para fevereiro, a tendência é de que elas fiquem acima da média em todo o país ao longo do mês, principalmente sobre a porção norte do país, onde as anomalias positivas de temperatura poderão ser maiores.
Mesmo assim, ainda podemos ver uma mudança no padrão de temperaturas ao longo do mês. As duas primeiras semanas parecem que serão bem quentes em uma grande porção do Centro-Norte do Brasil, mas também sobre o Sul, principalmente no Rio Grande do Sul.
Nas semanas seguintes as temperaturas parecem ficar mais amenas, com menores desvios positivos sobre grande parte do país, principalmente na região Sul e na faixa leste do país. Enquanto que sobre o Norte as anomalias positivas mais intensas de temperatura deverão persistir.